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FMI

Era de noite e o Zé da Pipas caminhava na bruma que ele próprio tinha semeado. A turva era constante. Com o medo abafado pelos litros de tinto que bebia, caminhava de peito feito pelas ruas com o dinheiro no bolso de mais um dia na Adega. Alimentava alcoólicos diariamente. Era um traficante à antiga. Só vendia vinho. Nem um petisco, para acamar o estômago, ele tinha. Assumia que não queria ter mais que fazer do que encher copos 3. O primeiro a ser servido era, sempre, o António das Rolas. Pelo ar de impaciência, do António, o Zé sabia se na noite anterior tinha bebido mais do que a conta. Não precisava de relógio para saber que nesse dia fatídico, para os dois, tinha chegado mais tarde do que nunca. O António já espumava pela boca e tremia que nem varas verdes. A discussão foi acesa. Acordaram, naquele pátio, todos os habitantes da aldeia. Temia-se o pior sem terem a noção que tragédia se avizinhava. A velhota Júlia, da padaria, que pela idade mais parecia uma múmia, com a bengala ao alto pedia calma. Na pacata aldeia já se gritava por justiça mesmo sem perceberem o que se passava. Uns urravam pelo Zé , outros zurravam pelo António. Entre Pipas e Rolas venha o diabo e escolha. Já estavam embrulhados ao sopapo. A velha da padaria estava no meio a dar verdascadas com a bengala. O Povo gritava. Os cães ladravam e as galinhas que já tinham acordado à muito tempo, cagavam bem alto para o que ali se passava. Ouve-se um estrondo e os dois tombam no chão fulminados. A velha continua à bengalada nos defuntos. Por ela estaria o dia todo nisto. O povo ficou mudo, os cães meteram o rabo entre as pernas e a velha sempre a dar com a bengala.
- Pare com isso velha de um raio - gritou um dos habitantes.

A velha nada. Tinha mais de onze filhos. Os netos, esses, já iam para 17 e sabia bem como acabar com uma discussão. No funeral destas pobres almas ainda estava a velha a dar toques no caixão.
A persistência é o segredo dos vencedores, mas nem sempre.

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

É desta!

É verdade, chegou ao fim e será para todos nós um grande alívio. Este Blogue começou em Angola, pelo facto de estar longe da minha terra e pela necessidade de exprimir o que me ia na alma. Já se passaram 4 anos, nunca eu pensei que estaria cá tanto tempo, e para mim, não faz mais sentido continuar. Tudo o que começa a ser forçado é o primeiro indício de que tem que acabar. E acaba. Só me resta agradecer a todos os que gostaram de aqui estar, e agredeço também aos que não gostaram - Como na morte, a despedida deve ser sempre camuflada pelo sentimento nobre. Obrigado a todos e encontramo-nos por aí!

Sexta-feira 13

É engraçado constatar que a maioria das pessoas não é supersticiosa: “Eu não acredito nada nessas coisas” Hoje é sexta-feira 13 e foram poucas as pessoas, emigradas em Angola, que arriscaram marcar a viagem para ir de férias neste dia. Por curiosidade, ontem fiz Check in de um colega corajoso que ia viajar precisamente hoje. Todas as filas já estavam praticamente ocupadas, menos a fila 13 ! Realmente era demasiado macabro ir numa sexta-feira 13 e ainda por cima ter a coragem de marcar a viagem na fila 13. Nem uma unica pessoa tinha marcado lugar nesta fila. Como se desse azar. Tem toda a lógica. Todas as outras filas vão viajar tranquilamente, mas a 13 não vai ter descanso. Eu sinceramente também não acredito nessas coisas. Ser ou não ser sexta-feira 13 é-me completamente indiferente. Dá-me é azar, mas de resto…

OLÉ