Cada vez mais aprecia a escrita rectilínea, sem muitas curvas sem muitas vírgulas. O que é para se dizer, deve ser dito rapidamente, sem apetrechos com poucos adjectivos. Curto e grosso. Não tem paciência para o acessório, emana objectividade. Não quer saber da roupa à janela, ou se a casa era amarela. Se está um dia radioso ou se a chuva molha parvos. Respeita o silêncio e conhece-o cada vez melhor. Nem tudo precisa de ser descrito, nem tudo tem que ser dito. Os dias são dele, não precisava de se justificar ou agradar a alguém. Possuía todas as horas do dia com a mágoa de quem conhece o mundo. Em tempos, muitos lhe pediram ajuda, concelhos, esmolas. Agora o seu telefone, só serve como despertador e para ver as horas. Está velho e sem estar doente apodrece num hospital. A Dona Teresa e a menina Inês lá vão passando anunciando o “Bom dia”. A enfermeira e a auxiliar todos os dias lhe dão uma festa na cara enrugada e esse, é o momento mais triste do dia. Sabe que não terá forças para sair dali. Sairá amanhã, embora não o saiba. O caixão em madeira de pinho enfeitado com dois ramos de flores que me parecem ser de jasmin, ou outra coisa assim, sai com os quatro filhos em lágrimas. Chorem. Chorem que eu vos vejo desta janela e continuarei de outro prédio ou casa qualquer.
Mais uma curta metragem que tem tudo para não ser vista. http://seguesoma.blogspot.com/