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CAIXAS

Desde muito cedo percebi que não gostava de caixas e de caixinhas. As pessoas têm tendência em organizar e agrupar as suas vidas em caixas. A primeira memória que eu tenho disso foi quando cheguei a uma festa de anos com os meus Pais, ainda era eu muito novo, e a minha Mãe vira-se para mim e diz “olha ali aqueles meninos que têm a tua idade, vai brincar com eles”. A lógica é a mesma de quando hoje em dia me dizem “convida o João e a Cristina, eles têm um filho da mesma idade que a tua”. Mas eu nem sequer gosto do João e a Cristina diz tudo o que lhe vem à cabeça. De início pode parecer giro, mas passados dez minutos era capaz de pendurar a Cristina pelos pés e suplicar a Deus que a levasse para junto dele. O que me preocupa é que a natureza permita que gente desta consiga procriar. “Mas sempre convivias um bocado e as crianças ficavam a brincar, só vos ia fazer bem”. Fazer bem? A quem? Não percebo esta necessidade de mostrar que conseguimos receber gente em nossa casa que não gostamos e não nos identificamos. “Mas se fores por aí, não te identificas com ninguém e acabas sozinho”. Sozinho? Eu estou com a minha família, e por incrivel que possa parecer a minha família são pessoas, falam e fazem uma boa companhia. Eu gosto da minha família. Não suporto é a Cristina, a Vanessa, o Pedro, o filho da Joana, o Martim. Detesto o nome Martim e dele também não gosto. Sai ao Pai, um idiota. Gosto de aprofundar as conversas, saber o que as pessoas esperam da vida. Debater caminhos a seguir – de onde viemos, para onde vamos - estratégias para que cada segundo conte. Não me apetece ouvir os dramas do trabalho da Joana. Os problemas que o Joaquim tem com os Pais. As tragédias de vida que o Carlos conta e que se eu pudesse o calaria à paulada. As catástrofes que só acontecem ao Filipe. Esganaria o Pedro se soubesse que não iria preso. Juro. O Pedro é capaz de sugar a minha felicidade toda assim que abre a boca. Se eu fosse surdo mudo, acredito que faria mais jantares em minha casa. As pessoas falariam livremente. Poderiam contar os seus melodramas ao detalhe sem que eu os interrompesse. Acho que até conseguiria por uma cara de feliz ao recebê-los na porta da minha casa. Tudo seria mais simples para eles. Para mim, seria só o silêncio. Do silêncio faria um grito.

Comentários

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

É desta!

É verdade, chegou ao fim e será para todos nós um grande alívio. Este Blogue começou em Angola, pelo facto de estar longe da minha terra e pela necessidade de exprimir o que me ia na alma. Já se passaram 4 anos, nunca eu pensei que estaria cá tanto tempo, e para mim, não faz mais sentido continuar. Tudo o que começa a ser forçado é o primeiro indício de que tem que acabar. E acaba. Só me resta agradecer a todos os que gostaram de aqui estar, e agredeço também aos que não gostaram - Como na morte, a despedida deve ser sempre camuflada pelo sentimento nobre. Obrigado a todos e encontramo-nos por aí!

Sexta-feira 13

É engraçado constatar que a maioria das pessoas não é supersticiosa: “Eu não acredito nada nessas coisas” Hoje é sexta-feira 13 e foram poucas as pessoas, emigradas em Angola, que arriscaram marcar a viagem para ir de férias neste dia. Por curiosidade, ontem fiz Check in de um colega corajoso que ia viajar precisamente hoje. Todas as filas já estavam praticamente ocupadas, menos a fila 13 ! Realmente era demasiado macabro ir numa sexta-feira 13 e ainda por cima ter a coragem de marcar a viagem na fila 13. Nem uma unica pessoa tinha marcado lugar nesta fila. Como se desse azar. Tem toda a lógica. Todas as outras filas vão viajar tranquilamente, mas a 13 não vai ter descanso. Eu sinceramente também não acredito nessas coisas. Ser ou não ser sexta-feira 13 é-me completamente indiferente. Dá-me é azar, mas de resto…

OLÉ