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Quem é maricas ?


Eu não fui à tropa.
Não digam nada a ninguém, fica um segredo só nosso.
Eu estava a ser humilhado e marginalizado pela sociedade, por este simples facto.
A maioria do Machos, recorda a estadia na tropa como um marco histórico.
Momentos de camaradagem e sofrimento que os tornaram homens.
Só assim foi possível.
Não vale a pena contar outros sofrimentos da vida se não foste à tropa.
Ao longo da minha vida, a inquestionável pergunta surge sempre “ e tu foste à tropa? Que tropa fizeste ? “
Eu de principio dizia a verdade: Que não tinha ido, porque levei com o carimbo vermelho a dizer “INAPTO”.
Preferia não vos explicar esta parte. Por favor, não insistam.
Tive que começar a mentir.
- Se eu fui à tropa? Então não fui! Santa Margarida caro amigo, estive lá 11 meses!
- A sério? e que tropa fizeste ?
Inicialmente dizia a “macaca”, que é chamada a tropa vulgar. Já não era gozado, mas também não me sentia respeitado. Não me sentia homem. Era com se fosse um homossexual escondido da sociedade.
Então elaborei a minha personagem.
- Eu amigo! eu estive nos Fuzileiros. Ali no duro, a bater com as costáças!
- é pá, sim senhor, isso é que é tropa ! e a tua semana de campo ? a minha até me tiraram as meias e as botas . Tive que andar cerca de 30 quilómetros descalço no meio do mato!
- ó pá ! isso nos fuzileiros é para meninos. Nós tivemos 3 semana de campo seguidas. Davam-nos meio litro de água e uma lata de atum que tinha que durar para 5 dias! Acordavam-nos todos os dias às 4 da manhã com paus a baterem-nos no lombo!
- Estou maravilhado pá, sim senhor. Deves estar orgulhoso de ti próprio!
Quem é que não fica orgulhoso por passar fome e levar porrada no lombo? Qualquer BESTA, como é óbvio!
E depois a inevitável pergunta:
- e qual é que foi a cena que te marcou mais ?
- Nem vais acreditar. Nessas 3 semanas de campo, um dia à noite estava eu a jantar. A noite era cerrada, estava nublado e a lua não se deixava ver. Enquanto saboreava a minha garfada de atum e a tampinha de água, o nosso Comandante manda-nos, imediatamente, fazer o exercício da “Busca do Tesouro”. Era uma poça enorme cheia de Estrume. Nós éramos 13 pessoas. Eles puseram, nem mais nem menos, do que 13 azeitonas dentro daquela poça juntamente com o dobro de caganitas de ovelha. A nossa missão era mergulhar naquela poça e encontrar a nossa azeitona. Não era uma azeitona qualquer. Cada uma estava identificada com o nosso nome! Posso dizer que dois deles, estiveram dia e meio à procura da azeitona.
- Deve ter sido incrível. Tu sim, és um verdadeiro homem. Daqueles que sabe o que é a verdadeira essência da vida!
- E ainda não sabes da melhor!
- Cum camandro, até estou em pulgas, conta lá!
- Eu nem sequer fui à tropa.
- Estás a gozar ?
- A sério, eu não passo de um farrapo desta sociedade. Um maricas que até tem medo de osgas e gafanhotos!
E perco sempre a oportunidade de me tornar num verdadeiro homem. Daqueles que mostra, sem a mínima duvida, quem é que manda lá em casa!
No fundo eu deveria ser expulso de qualquer sociedade que se preze.

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