Avançar para o conteúdo principal

Benguela. Vou-me lembrar até ter Bengala.

Desculpem a ausência, mas só para vos deixar roídos de inveja estive uns dias de férias.
A minha namorada veio-me visitar a Luanda e aproveitámos os dias para descobrir a verdadeira Angola.
Acabadinha de aterrar, após 8 horas de viagem, a Natalie só teve tempo de por as malas em casa, tomar um banho e preparar-se para mais 5 ou 6 horas de viagem, que na realidade foram um bocadinho mais.
A viagem, pode-se dizer, não começou como se esperaria.
Próximo da Barra do Kwanza encontramos a primeira e única portagem do caminho, que serve de acesso a uma pequena ponte.
Estivemos parados cerca de duas horas e meia, enquanto aguardávamos que fosse feita a manutenção. A escolha foi perfeita, Sábado à tarde que é quando a ponte, seguramente, tem mais afluência. Pagamos cerca de 2.20 € para atravessar 300 metros de ponte. Percebe-se, porque a vida custa a todos e as manutenções não estão nada baratas.



Uns quilómetros mais à frente, não muitos, a bexiga apertava. Normal, diria eu, para quem vai sucessivamente a beber “bitolas”. Parámos num descampado porque não se avizinhavam árvores. O meu colega e amigo Vitinha (ele não gosta que eu lhe chame de amigo, quem me conhece perceberá melhor o motivo) espetou uma espécie de prego no pé, nada de grave disse eu. Amigos são para isso mesmo, e pusemo-nos a caminho.

Opsss, afinal parece que não íamos longe. Uma espécie de qualquer coisa, não se chegou a descobrir, acabou de furar um dos pneus traseiros.
O terror pairou no ar quando alguém teve a excelente dedução :
- e se o pneu subselente está vazio ?
A perspicácia do Saragaço tem destas coisas !


Preciso salientar que neste percurso de 550 km, só existe uma estação de serviços e estávamos, seguramente, a mais de 6 maratonas. Nem a Rosa Mota no seu momento áureo, se atreveria, em pensar sequer, pôr-se a caminho.
Por sorte e após tirarmos cerca de 300 malas, uma geleira cheia de cerveja e uma coca-cola, como é óbvio não íamos levar só álcool para a viagem, conseguimos vislumbrar a nossa salvação.
Ali estava ele rijinho que nem um pêro, mostrando que podíamos contar com ele. Não deveríamos andar a mais de 80 km/h, porque aquela roda não tinha a mesma condição física das outras, no qual cumprimos na íntegra os primeiros 50 km. No restante caminho teve que dar tantas voltas como os seus outros 3 colegas de equipa, e acho que não conseguiu fazer batota.
Tenho que deixar uma palavra de apreço para o grande Saragaço, que mudou a roda com uma rapidez e destreza que qualquer equipa de Formula 1 se o visse, certamente que o deixaria continuar com a profissão que tem hoje em dia!
Tudo parecia finalmente resolvido e a encaminhar-se para um final feliz.
Dos que seguiam caminho, o Vitinha era o único que conhecia Benguela. Teve o privilégio, de esta ser a sua terceira vez. Chamamos a estes senhores os dinossauros de Angola. Há 6 anos que cá está e parece que este ano é de vez.
O nosso guia turístico portou-se lindamente nos primeiros 500 km.




- E agora Vitinha ?

De olhos fechados diz :
- é sempre em frente!
Passados 100 km.
- e agora Vitinha ?
- é sempre em frente !
Mais 100 km.
- e agora Vitinha, é em frente ou em frente ?
- é sempre em frente !

Tudo foi perfeito enquanto não havia opções de saída. A estrada só nos levava a um sítio, e esse sítio era, como já se percebeu, em frente.
Aparece um bifurcação.
- Vitinha e agora ?
- é sempre em frente !
- mas só podemos ir para a esquerda ou para a direita !

O Vitinha abre os olhos. Já era de noite, sem lua. A única coisa que se conseguia ver era o que os faróis conseguiam alcançar.
Escusado será dizer que nos perdemos umas quantas vezes. Não por culpa do Vitinha que ele até sabia o caminho. A porcaria do sol é que se foi embora cedo de mais!
Lá nos encontrámos nos olhos fechados do nosso Guia.
Tudo a postos para ser desta.
De repente, uma noticia do nosso companheiro Charrua que nos deixou a modos que um bocadinho preocupados:
- É pá estou farto de tentar ligar para o Hotel, para confirmar as vagas e avisar que chegamos 4 horas mais tarde, mas ninguém me atende!
- Confirmar as vagas ? – Pergunta a Natalie abismada, por se estar a falar de confirmar vagas a cerca de 50 km do destino.
A nossa serenidade perante tal noticia, agora que a transcrevo, parece para quem lê, de todo fora do normal. A verdade é que o desespero há muito que abandonou o espírito do emigrante em Angola.
A paisagem, enquanto o sol o permitiu, foi absolutamente magnífica. Adorava ter ali a minha Tia Lucilia do Alentejo. Só por uns instantes, não que ela seja chata, mas só havia uma coca-cola. Quantas e quantas vezes não me humilhou por eu não saber as diferenças entre figueiras, oliveiras, chaparros e afins.
“Meninos de Lisboa” – Dizia ela
“ Sabe que árvore é aquele tia ? Ai não sabe ? ah pois é ! é um Embondeiro como é óbvio! E aquela ali mais à frente ? Também não sabe ! Meninas do Alentejo !
A chegar a Benguela, uns flashes brancos punham o céu a nu, como se alguns fotógrafos estivessem a registar a nossa chegada.
Chegámos finalmente.
Os quartos estavam à nossa espera para roubar o desespero da Natalie, foi desta que o seu espírito ficou sem ele. Calha a todos.
A primeira noite foi calma. Só podia ser assim. Não havia energias para correr em busca do conhecimento.
O segundo dia começou cedo demais para quem não tem filhos. O amigo Charrua e a Ana, pais do Tomás, foram sempre a nossa “corneta” matinal. Que de principio arrepia, mas que depois acabamos por agradecer por termos mais umas horas de consciência. Também o nosso descanso em relação a toda a organização inerente a uma viagem destas, se deveu à Familia Charrua, que tudo fez para que não nos faltasse nada.




Como cada vez mais nos habituamos a falar mal do que está bem… não fizeram mais do que a vossa obrigação!! eh eh
Já os estou a imaginar ao ler estas linhas “ Ai é ? então para a próxima organizam vocês as coisas!” Fomos a caminho da Restinga no Lobito. O dia estava cinzento, chegou a pingar, mas o calor, esse nunca abandona esta terra. A areia denunciava que o mar a tinha incomodado para além do que é normal. Na noite anterior houve tempestade no mar.








A Praia era acompanhada por uma esplanada que nos ia levando a vida!
Chapéus-de-sol com estruturas manhosas, inventadas por quem não gosta de simplicidade, parte e quase que nos leva as cabeças.





O Paulinho teve mais uma das suas aparições esporádicas, mas que nos deixa sempre em grande expectativa.
O que vai sair dali?
A primeira cerveja caiu bem. As seguintes vieram depressa demais para quem não está habituado. Já se dizia a meio do dia – Não é como começa, mas como acaba!





Eu que o diga. Quando queremos acompanhar verdadeiros fígados, é bom que no outro dia estejamos preparados para um dia de verdadeira ressaca.
Tudo acabaria prematuramente para o Paulinho, se não fosse a única discoteca de Benguela estar fechada. Se soubesse, também eu teria feito um brilharete durante o dia!
Acabámos por ter que mentir e dizer que a noite foi sempre a bombar. Uma discoteca nunca vista, com um ambiente fantástico. Foi a loucura !
No terceiro dia, fomos conhecer a zona mais bonita de Benguela. A Baía Azul é um sítio autenticamente paradisíaco. Onde a água refresca no ponto certo. Onde só nos apetece ter os olhos dos chineses para podermos ver tudo em 16:9! Tão paradisíaco, que os maníacos com dinheiro já começam a construir de mais, para privarem o mundo de conhecerem um espaço que só aos ricos diz respeito. Respeito que cada vez menos os ricos merecem!






Eu se fosse rico, quando estivesse a morrer, comprava uma ilha só para o pessoal da Brandoa FOD** aquilo tudo.
Quarto dia e ultimo, foi a altura de regressar a Luanda. No peito guardei a 7 chaves o privilégio enorme desta viagem. Daqueles que partilho mas que não dou a ninguém.

























































Comentários

  1. Também foi uma das poucas coisas que gostei em Angola. eheheh. Não foste à Caotinha em Benguela? Então tens que lá voltar, vale a pena. E não é assim tãaao longe de Luanda e a estrada é boa. Pior foi quando eu me meti sozinho na "estrada" de Huambo pra lá. Pelo menos já regressei acompanhado.
    Não sei pq, mas acho q voltarei lá um dia.

    ResponderEliminar
  2. Adorei a reportagem. O meu marido, como sempre, está lindo. Beijos

    ResponderEliminar
  3. 8 dias sem publicações no Blog!!!
    Para depois dizeres que foste de férias!!!
    Vai mas é trabalhar Pá!!
    Então??? Comé???
    Eu aqui todo cheio de stress, e tu... e tu... de férias...
    Se voltas a estar uma semana sem publicar nada, quando chegares a casa levas uma carga de PURRADA!!!
    (Palavra de mano velho)
    Se fores novamente de férias leva o PC+Net, de a Net não der nada, compra 1/2 duzia de pombos correio, e manda os gajos, ter a minha casa (1 por dia)...com as respectivas actualizações do blog!!! e nem me venhas com desculpas, ou voltas a apanhar como quando eras mais pequeno do que eu!!! :):):)

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

Prós e Contras

Todos sabemos que temos que andar com as calças folgadinhas caso seja preciso arregaçar à pressa. Ninguém tem dúvidas disso. O último programa “Prós e Contras” gravado em Angola foi um exemplo, diria escandaloso, disso mesmo. Foi degradante para a história da nossa nação as figuras que tivemos que fazer. Pelo menos eu, ainda tenho orgulho de dizer que sou Português e não queria de maneira nenhuma deixar de o ter. O jornalista Rosa Mendes que tentou mostrar a vergonha de uma nação, tornou o caso mais vergonhoso ainda por ESTE motivo! Mas nada como histórias pessoais, também elas vergonhosas, para apaziguar a alma dos inconformados - Já me tinha acontecido, tentar salvar alguém de morrer afogado. A primeira vez e única, até este fim-de-semana que passou, foi no Gerês quando a dois metros da margem do rio o meu amigo de alcunha “Salmão”(de certeza que não foi pelos dotes de nadador que lhe puseram a alcunha, porque estes meninos nadam contra a corrente como ninguém) começa a esbracejar ...

SER DIFERENTE CUSTA E NÃO É POR TER A MANIA

Saber não fazer nada é cada vez mais uma arte - já falei sobre isto – e nos dias que correm, porque o tempo não pára, faz-me cada vez mais sentido. Numa sociedade que nos suga e nos impinge objectivos, os meus, os objectivos, são cada vez menos. Não tenho grandes metas, mas tenho uma grande meta: Ter a possibilidade de não ter nada para fazer. E isto, meus amigos, não se alcança do pé para a mão. Poder não fazer nada é cada vez mais uma bênção que poucos podem alcançar. A rapidez dos dias de hoje sega-nos. Será propositado? Talvez, mas o facto de não nos darem tempo para fixarmo-nos num ponto, para podermos observar com calma, torna tudo numa montanha linda e apejada de lixo. Por isso, como poderemos acalmar e abrandar a azafama da nossa vida, do nosso ninho familiar? Lá fora podem andar todos a mil à hora, numa tormenta de carneiros. Será que conseguimos escapar deste trilho? Sim, podemos. Como? Comprando o tempo. Só com dinheiro do nosso lado poderemos dizer que “não” a muita ...

Mulheres

Os homens não se medem aos palmos, já as mulheres ninguém tem ideia de como é que se podem medir. Todos sabemos as enormes habilidades que têm para encontrar uma boa discussão num pacote que ficou meio aberto, ou uma gaveta que ficou mal fechada. Temos essa noção e lutamos constantemente por uma perfeição completamente utópica. Pela história da humanidade comprova-se que muitos desistiram a meio. Mas só para ganhar fôlego, voltaram sempre a tentar, são poucos aqueles que não meteram, de novo, a cabeça no cepo. Continuaremos sempre a insistir e há heróis que conseguem uma vida inteirinha partilhada com o furacão feminino. São raros os casos em que assumem uma vida sem justificações - fazer exactamente aquilo que lhes apetece, chamada uma vida livre, uma vida de sonho. A pergunta parece ser simples “porquê?” Será que existe uma resposta coerente? Uma das justificações pode ser o facto de o ser humano ter um instinto masoquista. Mas penso que o caminho não será por aí. Todos sabem...

A senhora que corria!

Corria a Senhora, e diga-se, com uma pressa como nunca a vi, quando uma das botas lhe salta. Voltará atrás? Será a pressa tão importante para mesmo assim continuar sem se preocupar com mais nada? … a senhora voltou mesmo atrás! Sentou-se no banco do jardim mais próximo e, com uma calma inesperada, descalça a outra bota e de dentro da mala puxa de um caixa que continha uvas podres! Indignada joga tudo para o lixo e volta a correr desalmadamente … Não viu que atravessara uma estrada muito movimentada. Foi tolhida por um camião! Pobre coitada. Todos lhe juravam um futuro risonho!