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O ÚNICO CARPINTEIRO DA ALDEIA

Num acidente de automóveis:
- O Srº é idiota ? – Pergunta o individuo
- Quem eu? – Responde o outro
- Está a ver aqui mais alguém? – De novo o individuo
- Não! – O outro
- Então? - Individuo
- Então o quê? – Novamente o outro

Foi esta a conversa que fez com que João António se tornasse um vigarista. Isto foi há pouco tempo. Nunca ele imaginaria ser um bandido mas a força das circunstâncias exigiam à sua sobrevivência. A trabalhar, definitivamente, ninguém enriquece e nos tempos que correm, arriscaria dizer que quase ninguém sobrevive. Agora com os gatunos a conversa é outra. Falamos dos bons gatunos. E ele apercebeu-se que existe gente idiota no mundo. Coitado, se calhar apercebeu-se tarde, é certo, mas percebeu que poderia, também ele, ganhar dinheiro com isso. O processo foi mais ou menos simples. No fundo é preciso ter a noção que ser “bom coração” não passa de estupidez. Até porque ele era Ateu. E para os Ateus tanto os bons como os maus acabam por morrer, sem que, depois disso, tenham consequências pela vida que tiveram. E portanto, ser “bonzinho” é sinónimo de idiotice. Não é que o António não tenha valores morais. Porque até os tem... e bastantes - Ele até ajuda na matança do porco lá na sua aldeia. Tudo bem, come uma bifana ou outra de borla, mas não é isso que lhe paga o sofrimento de ver um animal, tão bonito, como o porco, morrer. Então o João António decide vender objectos que ainda não existem. Seria um exclusivo inalcançável para muita gente e que alguns tinham o enorme privilégio de serem os primeiros a alcançar algo único. Esta era a premissa. Agora imaginemos o seguinte – Um microondas de frio. Quem não gostaria de ter um? A cerveja está quente, pimba, um minuto no microondas e já estava. Outra – Manual de instruções e truques para que as mulheres voltem a ser submissas e verdadeiras Donas de casa. Esta foi a mais concorrida (calma Senhoras, eu disse que isto era para gente idiota) E Ainda – Gomas para os miúdos de Sopa de Beldroegas. Rico em vitaminas e sem açúcares. O negócio começou mal e acabou pior. Não que não houvesse gente idiota naquela aldeia ou que as ideias não fossem boas. Mas o pobre do João António não tinha nascido para mentir. Quando as pessoas começavam a ficar entusiasmadas, João António começava a chorar e a pedir perdão de joelhos. Afinal não era Ateu. Descobriu que tinha que seguir o caminho de Deus. Não se matou, e continuou como o único Carpinteiro da aldeia.
Se era feliz?
A felicidade não tem nada a ver com esta história.

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