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A BUFA

 
Alguém tinha soltado uma bufa, todos sentimos o cheiro e não havia a mínima hipótese de haver duvida. Quem a deu não imaginava que fosse tão potente e certamente se arrependeu mal se apercebeu da amplitude do seu peido. Há que chamar os bois pelos nomes, e todos nós já largamos o nosso pantufas em locais públicos. Não era motivo para crucificar ninguém, mas todos queríamos saber quem era o(a) responsável, até porque estávamos como latas de sardinhas na fila para sermos atendidos no balcão de um banco. Aqui, em Luanda, não convém abandonar o nosso lugar mesmo que seja por breves segundos. Eu até nem ia fazer nada de especial, simplesmente iria perguntar pela milésima vez o motivo de o meu multicaixa (multibanco) não funcionar. A resposta era sempre a mesma, mas mesmo assim, a mesma, não me resolvia o problema. Nem vale a pena aprofundar muito este assunto, até porque aqui as coisas são sempre meio nubladas e todos se obrigam a aceitar o evidente – Não vale a pena, é preciso é muita calma e persistência. Bem, mas voltando ao assunto que nos trousse aqui, todos se transformaram em detectives e como a bufa não vem com etiqueta a dizer quem é o dono, a investigação começou pela indignação de uma senhora, já com uma idade avançada, ao dizer “que falta de respeito pelas pessoas…” Teve sorte porque seria, sem a mínima duvida, a minha principal suspeita. É de conhecimento público que quando caminhamos para velhos vamos perdendo as nossas capacidades e uma delas é aguentar, com os músculos das nádegas, qualquer acto terrorista de flatulência. A indignação tornou-se viral e entre gestos e protestos eu reparei que mais do que dois pares de olhares recaíam sobre a minha pessoa. E eu juro aqui em pé juntos que, das muitas vezes que me caguei em locais menos próprios, desta vez não tinha sido eu. Tentei por tudo mostrar que era o mais inconformado com aquela situação e num gesto meio tresloucado saquei de um lenço de papel e tapei o nariz fingindo que estava quase a vomitar. Passado uns segundos olhei de soslaio com a esperança que a minha encenação tivesse sido o suficiente para desviar qualquer suspeita, mas desta vez até tinha a velha a olhar para mim com um olhar que faiscava de raiva. Entre empurrões e apertos saí, dali para fora, cheio de vergonha de uma coisa que eu não tinha feito - Agora percebo a indignação e o sentimento de revolta que os Americanos sentem quando, injustamente, são condenados a pena de morte sem terem feito absolutamente nada - Ainda a 300 metros da porta do banco ouvi alguém gritar que eu era um porco, como que antevendo o que viria a seguir. Era hora de almoço e o meu colega esperou menos do que seria suposto se não fosse aquele episódio. Leio a ementa e peço um bife da vazia grelhado, enquanto o meu colega prefere pataniscas com arroz de feijão. O pedido dele veio certinho e para mim apresentam-me lombo de porco recheado. Olhei para o prato, olhei para o empregado e se não fosse a fome seriamos dois porcos injustiçados por culpa de terceiros!

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TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

É desta!

É verdade, chegou ao fim e será para todos nós um grande alívio. Este Blogue começou em Angola, pelo facto de estar longe da minha terra e pela necessidade de exprimir o que me ia na alma. Já se passaram 4 anos, nunca eu pensei que estaria cá tanto tempo, e para mim, não faz mais sentido continuar. Tudo o que começa a ser forçado é o primeiro indício de que tem que acabar. E acaba. Só me resta agradecer a todos os que gostaram de aqui estar, e agredeço também aos que não gostaram - Como na morte, a despedida deve ser sempre camuflada pelo sentimento nobre. Obrigado a todos e encontramo-nos por aí!

Sexta-feira 13

É engraçado constatar que a maioria das pessoas não é supersticiosa: “Eu não acredito nada nessas coisas” Hoje é sexta-feira 13 e foram poucas as pessoas, emigradas em Angola, que arriscaram marcar a viagem para ir de férias neste dia. Por curiosidade, ontem fiz Check in de um colega corajoso que ia viajar precisamente hoje. Todas as filas já estavam praticamente ocupadas, menos a fila 13 ! Realmente era demasiado macabro ir numa sexta-feira 13 e ainda por cima ter a coragem de marcar a viagem na fila 13. Nem uma unica pessoa tinha marcado lugar nesta fila. Como se desse azar. Tem toda a lógica. Todas as outras filas vão viajar tranquilamente, mas a 13 não vai ter descanso. Eu sinceramente também não acredito nessas coisas. Ser ou não ser sexta-feira 13 é-me completamente indiferente. Dá-me é azar, mas de resto…

OLÉ