Avançar para o conteúdo principal

Dor reflexo


Vocês conhecem a dor reflexo?
Não?
Eu conheci a semana passada. Nunca tinha ouvido falar, mas parece que é um fenómeno comum nos especialistas de clinica dentária. Estava, ou melhor, estou à rasca de um dente vai para duas semanas e tive que arriscar um dentista por estas bandas. Calhou-me uma Brasileira, e sou sincero, o sotaque desta gente já me irrita. Não sei se foi de ter levado com as novelas aos magotes quando era um jovem com acne na cara, ou se é por outro motivo qualquer. Mas quando oiço um Brasileiro a dizer que “tou falando verdade” começo logo a desconfiar.
Bem, mas eu sento-me na cadeira mais temida do mundo e digo que me dói um dos dentes de baixo. Não tinha a certeza qual dos dois me doía, mas era um deles. Ela começa a investigar, batendo num, batendo no outro sempre com a ajuda do espelho e passa para os dentes de cima. Pensei que queria analisar a minha qualidade dentária e assim arranjar mais um ou dois que lhe dessem mais uns dólares. Achei normal, afinal todos andamos ao mesmo. Uns com maior ganância, outros com menos. Mas tudo gira à volta do dinheiro… e do amor no caso do meu cão!
Foram dois ou três minutos até sair-se com esta:

- Você acredita se eu lhe disser que o problema é do dente de cima ? – dispara sem piedade.
- Como? – Pergunta um ignorante que de dentes só tem conhecimento da dor.
- É chamada a dor reflexo, a minha experiência clinica diz que é este aqui de cima! olha ele aqui com uma carie!
- Mas Doutora dói-me em baixo – insisto eu, não fosse a experiente dentista não ter ouvido da primeira vez!
- Pô, é por isso é que se chama a dor reflexo, é o dente de cima que reflecte a dor em baixo !

Sou sincero, costumo ser ingénuo nestas coisas, até acho que uma vez pus um motor quase novo num carro velho que eu tinha, quando no fundo não precisaria mais do que encher os pneus para o carro andar. Mas por amor da Santa, dói-me em baixo. Eu sinto a dor. É em baixo. Eu disse-lhe que achava estranho, para não lhe chamar nomes, e até dei um exemplo:

- Doutora imagine que vai ao médico porque tem uma dor num pé. E depois de uma análise rápida, sem uso de qualquer tecnologia, lhe dizem que a sua dor no pé é o reflexo de um problema que tem no punho do seu braço esquerdo! – Pensei que com esta ela fosse recorrer à sua experiência, e com factos me mostrasse que eu estava completamente enganado.
- Você é que sabe, mas a minha experiência clinica diz que é dor reflexo!

Será que arranjei o dente de cima ?

Comentários

  1. Voce e um idiota de descriminar o sotaque brasileiro.
    Nao esqueca que essa lingua so sobrevive pelos milhoes de Brasileiros que falam portugues!

    ResponderEliminar
  2. É verdade que sou um idiota e discrimino até a minha própria essência. Em relação à sobrevivência da língua seria uma perda enorme se no nosso País irmão, o Brasil, se lembrassem de começar a falar Alemão. Se voltar a ler um texto neste espaço (ao qual eu não recomendo) perceba que a ironia não pode ser lida literalmente. Um abraço apertado.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

Prós e Contras

Todos sabemos que temos que andar com as calças folgadinhas caso seja preciso arregaçar à pressa. Ninguém tem dúvidas disso. O último programa “Prós e Contras” gravado em Angola foi um exemplo, diria escandaloso, disso mesmo. Foi degradante para a história da nossa nação as figuras que tivemos que fazer. Pelo menos eu, ainda tenho orgulho de dizer que sou Português e não queria de maneira nenhuma deixar de o ter. O jornalista Rosa Mendes que tentou mostrar a vergonha de uma nação, tornou o caso mais vergonhoso ainda por ESTE motivo! Mas nada como histórias pessoais, também elas vergonhosas, para apaziguar a alma dos inconformados - Já me tinha acontecido, tentar salvar alguém de morrer afogado. A primeira vez e única, até este fim-de-semana que passou, foi no Gerês quando a dois metros da margem do rio o meu amigo de alcunha “Salmão”(de certeza que não foi pelos dotes de nadador que lhe puseram a alcunha, porque estes meninos nadam contra a corrente como ninguém) começa a esbracejar ...

SER DIFERENTE CUSTA E NÃO É POR TER A MANIA

Saber não fazer nada é cada vez mais uma arte - já falei sobre isto – e nos dias que correm, porque o tempo não pára, faz-me cada vez mais sentido. Numa sociedade que nos suga e nos impinge objectivos, os meus, os objectivos, são cada vez menos. Não tenho grandes metas, mas tenho uma grande meta: Ter a possibilidade de não ter nada para fazer. E isto, meus amigos, não se alcança do pé para a mão. Poder não fazer nada é cada vez mais uma bênção que poucos podem alcançar. A rapidez dos dias de hoje sega-nos. Será propositado? Talvez, mas o facto de não nos darem tempo para fixarmo-nos num ponto, para podermos observar com calma, torna tudo numa montanha linda e apejada de lixo. Por isso, como poderemos acalmar e abrandar a azafama da nossa vida, do nosso ninho familiar? Lá fora podem andar todos a mil à hora, numa tormenta de carneiros. Será que conseguimos escapar deste trilho? Sim, podemos. Como? Comprando o tempo. Só com dinheiro do nosso lado poderemos dizer que “não” a muita ...

Mulheres

Os homens não se medem aos palmos, já as mulheres ninguém tem ideia de como é que se podem medir. Todos sabemos as enormes habilidades que têm para encontrar uma boa discussão num pacote que ficou meio aberto, ou uma gaveta que ficou mal fechada. Temos essa noção e lutamos constantemente por uma perfeição completamente utópica. Pela história da humanidade comprova-se que muitos desistiram a meio. Mas só para ganhar fôlego, voltaram sempre a tentar, são poucos aqueles que não meteram, de novo, a cabeça no cepo. Continuaremos sempre a insistir e há heróis que conseguem uma vida inteirinha partilhada com o furacão feminino. São raros os casos em que assumem uma vida sem justificações - fazer exactamente aquilo que lhes apetece, chamada uma vida livre, uma vida de sonho. A pergunta parece ser simples “porquê?” Será que existe uma resposta coerente? Uma das justificações pode ser o facto de o ser humano ter um instinto masoquista. Mas penso que o caminho não será por aí. Todos sabem...

A senhora que corria!

Corria a Senhora, e diga-se, com uma pressa como nunca a vi, quando uma das botas lhe salta. Voltará atrás? Será a pressa tão importante para mesmo assim continuar sem se preocupar com mais nada? … a senhora voltou mesmo atrás! Sentou-se no banco do jardim mais próximo e, com uma calma inesperada, descalça a outra bota e de dentro da mala puxa de um caixa que continha uvas podres! Indignada joga tudo para o lixo e volta a correr desalmadamente … Não viu que atravessara uma estrada muito movimentada. Foi tolhida por um camião! Pobre coitada. Todos lhe juravam um futuro risonho!