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Ourique de Ouro!

Esta é uma história da vida real. Seria uma história como outra qualquer se não fosse eu o protagonista. Estávamos em pleno Verão quando eu me escapava de Lisboa e ia a caminho do Alentejo. A terra dos meus Avós. Ourique para ser mais preciso. Tudo era vivido com outro sabor. Já naquela altura, no inicio dos anos 90, a mania de acompanhar os tempos modernos me irritava. Que tempos tenho que acompanhar se não aqueles que me dão real prazer? Porra para isso e lá ia eu rumo ao sul. A primeira noite naquela terra era sempre mágica. Dormia pela metade o que valeria o dobro. Acordava mais cedo do que me lembrava até então. Tão cedo que a porcaria das galinhas só cacarejavam após os meus primeiros passos pelo quintal. “Suas porcas deixem cá ver se têm ovo” dizia eu enquanto as enxotava para não me cagarem todo. Normalmente nunca tinha sorte. Essa pertencia sempre à minha Avó, a Antónia. O que tinha de inteligência a bondade acompanhava. Era ela que punha os ovos. Sim, aqueles que eu apanhava, na sua maioria, eram postos por ela. Não que lhes saíssem do cu, tenham respeito, mas para me ver feliz lá ia às escondidas por o ovo para me chamar de seguida. Como a mentira tem pernas curtas achei estranho os ovos estarem sempre frios. Tudo o que vem do cu, vem quentinho. Isso toda a gente sabe. E assim descobri uma verdade que me deixou triste. Mas nada que me pusesse o animo para baixo. A rega era outra das facetas que me entusiasmava. Os carreiros feitos com rigor e minucia, para que não tivéssemos que andar de um lado para o outro com a mangueira, não me encantavam. Preferia mesmo percorrer todos os recantos, conhecer todas as espécies que por ali habitavam. “Isso é uma nespereira seu burro!” com carinho me ia ensinando que as frutas não caem todas da mesma árvore. Eu até nem estava nada mal, havia amigos meus que pensavam que elas nasciam nas caixas do supermercado. Tudo era encantador naquele Alentejo profundo. Uma bicicleta era o meu transporte diário. Tinha sempre várias capelinhas para visitar. Desde o meu primo Alberto, o meu primo João, a minha prima Carla, a Tia gira e afoita Lucília e o Tio Farias. O meu tio Farias sempre teve a cara fechada, mas era o que tinha mais paciência para a pequenada. Levava-nos a passear no jipe para o monte que ele tinha como retiro espiritual. Ele chamava-lhe outra coisa, mas o significado era o mesmo. Chegando ao monte virávamos adultos. Ali ninguém era pequenino. Com a espingarda na mão lá íamos nós, eu e o meu primo João, à caça de tudo o que mexia. Fosse o que fosse, levava chumbo. Um dia matámos uma criança… estou a brincar. Ela escapou-se com vida após estar de coma durante três semanas. De tiro em tiro, chegara a altura do primeiro tiro de caçadeira. Ahhh que belo coice que aquela porcaria dava. Lembro sempre disso quando preciso de um coice na vida. Apetecia-me na maioria dos casos sair para a rua e dar os bons dias a uns quantos com um “BOOOMMM” mas sempre tive receio que a justiça em Portugal, de mim, não tivesse pena. Estaria a fazer um favor a muito boa gente. Mas quem sou eu para determinar a morte a quem quer que seja. Poderia sempre alegar que possuíam armas de destruição maciça mas o sacana do Bush já me estragou essa deixa.

E a comida ? Ui, ui a comida era um sonho. Tudo tinha um verdadeiro sabor: O Pão Alentejano era de cortar as veias. Lembro-me de um requeijão, em forma de bola de rugby mas achatado por baixo, que era a minha perdição. Comia um por inteiro se não me o tirassem da frente. Isto para não falar das costas. Não as de alguém, mas era uma espécie de bolo, mas tipo salgado, que quando vinha quentinho me arrepiava a espinha e se entranhava na alma.

O regresso era sempre trágico. Não me alongo mais sobre o regresso, porque o que era bonito já cansa ler, imaginem o que é triste!

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