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Delícia de morango


Era a cozinheira do momento.

Restaurante finíssimo, cheio de “9 horas” e a comida era mais do que uma delícia.

Quem seria a cozinheira? Poucos sabiam, e o mistério aguçou o interesse.

”A cozinheira da farfalheira” assim lhe chamavam os poucos que a conheciam.

O bigode de Hitler nestes tempos modernos utilizado, era substituído por um bem mais farfalhudo e gasto… bem, mas na verdade era assim, com a farfalheira de fora, que fazia os seus cozinhados. Feia como um pneu arrebentado. Sisuda e com um mau humor, que o único ajudante que a aguentava, dos muitos que por ali passaram, era um mudo maluquinho. “Mongolóide” como era chamado. “Coitadinho” pensarão vocês, mas este rapaz rompia o pessegueiro em frente à cozinheira e foi assim que lhe conseguiu arrancar o primeiro sorriso. O ultimo, esta história fica encarregue de vos dizer como será!

Era o segredo, era a chave do restaurante cheio de “9 horas” – A “Cozinheira da farfalheira” e o “Mongolóide”
Porca, mas porca esta senhora - A bata branca estava sempre que metia nojo. Se lavava as mãos antes de alguma coisa, tal coisa nunca apareceu.
Mas ninguém lhe podia dizer nada. O medo de perder esta pérola esborratada era tremendo. Estava ali uma mina de ouro, embora o preço a pagar fosse alto.

Entre entradas de sonho, pratos gourmet olimpicamente decorados, a sobremesas em que o sabor transformaria ateus em verdadeiros crentes da divindade… fez com que a curiosidade de conhecer a obreira, destas verdadeiras obras primas, fosse histérica e desmesurável.

Tudo a seu tempo, a estratégia estava desenhada há muito tempo. Ninguém o diria pela aparência triste e fora de contexto desta velha imunda. Mas o trabalho era minuciosamente preparado, tanto assim era que o dono do Restaurante viu-se obrigado a triplicar o seu espaço.
Vinham de toda a parte… até se faziam excursões com meses de antecedência para se ter o privilégio de confirmar o mito que corria o mundo.

Foi no dia a seguir, antes da despedida, que tudo aconteceu - Restaurante cheio, à pinha, até parecia uma taberna em dias de jogo, e no fim da refeição a sobremesa mostrou o seu encanto mortal. O veneno sabia a Morango e ninguém foi poupado desta trágica gula: Desde velhos a crianças, até o Primeiro Ministro Vitor Gaspar, todos foram dilacerados.
O cenário pintado neste quadro macabro, era com o que sempre tinha sonhado. Passou pelos clientes moribundos, sentados com a cabeça tombada em cima da mesa, e se sentou bem no centro com a sua sobremesa de morango na mão. Olhou em toda a volta… esperou um momento, e comeu uma colher de sobremesa, comeu duas e assim ficou petrificada com o ultimo sorriso, aquele que vos falei de início, quando o Mongolóide, em lágrimas, a encontrou. Também seria a primeira e ultima vez que o coitadinho chorava.

Comentários

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

É desta!

É verdade, chegou ao fim e será para todos nós um grande alívio. Este Blogue começou em Angola, pelo facto de estar longe da minha terra e pela necessidade de exprimir o que me ia na alma. Já se passaram 4 anos, nunca eu pensei que estaria cá tanto tempo, e para mim, não faz mais sentido continuar. Tudo o que começa a ser forçado é o primeiro indício de que tem que acabar. E acaba. Só me resta agradecer a todos os que gostaram de aqui estar, e agredeço também aos que não gostaram - Como na morte, a despedida deve ser sempre camuflada pelo sentimento nobre. Obrigado a todos e encontramo-nos por aí!

Sexta-feira 13

É engraçado constatar que a maioria das pessoas não é supersticiosa: “Eu não acredito nada nessas coisas” Hoje é sexta-feira 13 e foram poucas as pessoas, emigradas em Angola, que arriscaram marcar a viagem para ir de férias neste dia. Por curiosidade, ontem fiz Check in de um colega corajoso que ia viajar precisamente hoje. Todas as filas já estavam praticamente ocupadas, menos a fila 13 ! Realmente era demasiado macabro ir numa sexta-feira 13 e ainda por cima ter a coragem de marcar a viagem na fila 13. Nem uma unica pessoa tinha marcado lugar nesta fila. Como se desse azar. Tem toda a lógica. Todas as outras filas vão viajar tranquilamente, mas a 13 não vai ter descanso. Eu sinceramente também não acredito nessas coisas. Ser ou não ser sexta-feira 13 é-me completamente indiferente. Dá-me é azar, mas de resto…

OLÉ