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Em jeito de Caderneta de Cromos

Quando era criança, havia o jogo dos canudos. Um pouco em jeito de “Caderneta de Cromos”, para a geração dos anos 70 e 80 certamente se lembram de uns tubos de electricidade, de plástico, que serviam para nos entretermos com verdadeiras guerras campais. O brinquedo era simples, enrolavam-se umas tiras de papel, eu preferia o papel das revistas, em forma de cone, onde o inseríamos no dito tubo e depois era só assoprar. Aquele pequeno engenho, parecendo que não, atingia distâncias grandes e com uma precisão de um verdadeiro sniper. Havia quem pusesse alfinetes na ponta, uma verdadeira delícia. Claro que o gosto e o entusiasmo por este brinquedo, fazia com que fossemos aperfeiçoando as nossas “armas” . Existiam verdadeiras obras-primas – Com 2 e 3 tubos, dando a hipótese de termos 3 munições prontas a saírem quase de rajada. Tudo parecia ser lindo até ao dia da tragédia. Passei um mês e meio sem poder por comida sólida à boca. Não falem em passar fome, eu sei o que é isso! Até aos dias de hoje, tenho bem presente na minha memória, batidos e mais batidos, sopas e mais sopas, que dias a fio tive que enfrentar. Tudo por causa de um canudo que me entrou pela garganta a dentro. Eu era o Policia e o Ladrão, distraído, foge para o lado errado e embate no canudo que eu tinha na boca. Parto o dente da frente e fico com uma ferida enorme na garganta. Para bem de quem me acompanhava, não ouviram a minha voz durante 7 dias inteirinhos - Um descanso, eu acredito!

Para quem pensava que podia ser um sossego permanente, começou-se a ouvir um grunhido ao oitavo dia. A primeira palavra, pelo menos perceptível, foi um gemido de desespero – FOMMMEEEEE

Tinha fome e os tachos continuavam a zanzar na minha casa de um lado para outro como se tivessem a olhar para mim e a fazerem-me caretas. A minha Família continuava a comer normalmente. Como era possível? Eu não percebia isso. Como podiam eles continuar com manjares de autênticos Reis. Havia de tudo naquela mesa, tachos fumegantes, cheiros que me dilaceravam a alma. Lembro-me, como se fosse hoje, a primeira garfada que eu dei depois deste tormento. Ovos mexidos, bem esmigalhados, dirigiam-se a mim como se uma Pamela Anderson, daqueles tempos, me sussurrasse ao ouvido a dizer que estava à minha espera no quarto. Quase que desmaiei com tamanha satisfação. Não pela Pamela, que comparada aos ovos mexidos, conseguia, ainda assim, ficar a perder. Era o inicio do fim de uma travessia que fez de mim um homem. Tudo por causa de um canudo!

A conclusão é simples, nunca sabemos de onde virá as verdadeiras lições da vida. Pode vir de um canudo, de uma folha, de um prego, de um porco ou mesmo, quiçá, de um tacho fumegante. Nada importa até ao dia …

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

Prós e Contras

Todos sabemos que temos que andar com as calças folgadinhas caso seja preciso arregaçar à pressa. Ninguém tem dúvidas disso. O último programa “Prós e Contras” gravado em Angola foi um exemplo, diria escandaloso, disso mesmo. Foi degradante para a história da nossa nação as figuras que tivemos que fazer. Pelo menos eu, ainda tenho orgulho de dizer que sou Português e não queria de maneira nenhuma deixar de o ter. O jornalista Rosa Mendes que tentou mostrar a vergonha de uma nação, tornou o caso mais vergonhoso ainda por ESTE motivo! Mas nada como histórias pessoais, também elas vergonhosas, para apaziguar a alma dos inconformados - Já me tinha acontecido, tentar salvar alguém de morrer afogado. A primeira vez e única, até este fim-de-semana que passou, foi no Gerês quando a dois metros da margem do rio o meu amigo de alcunha “Salmão”(de certeza que não foi pelos dotes de nadador que lhe puseram a alcunha, porque estes meninos nadam contra a corrente como ninguém) começa a esbracejar ...

SER DIFERENTE CUSTA E NÃO É POR TER A MANIA

Saber não fazer nada é cada vez mais uma arte - já falei sobre isto – e nos dias que correm, porque o tempo não pára, faz-me cada vez mais sentido. Numa sociedade que nos suga e nos impinge objectivos, os meus, os objectivos, são cada vez menos. Não tenho grandes metas, mas tenho uma grande meta: Ter a possibilidade de não ter nada para fazer. E isto, meus amigos, não se alcança do pé para a mão. Poder não fazer nada é cada vez mais uma bênção que poucos podem alcançar. A rapidez dos dias de hoje sega-nos. Será propositado? Talvez, mas o facto de não nos darem tempo para fixarmo-nos num ponto, para podermos observar com calma, torna tudo numa montanha linda e apejada de lixo. Por isso, como poderemos acalmar e abrandar a azafama da nossa vida, do nosso ninho familiar? Lá fora podem andar todos a mil à hora, numa tormenta de carneiros. Será que conseguimos escapar deste trilho? Sim, podemos. Como? Comprando o tempo. Só com dinheiro do nosso lado poderemos dizer que “não” a muita ...

Mulheres

Os homens não se medem aos palmos, já as mulheres ninguém tem ideia de como é que se podem medir. Todos sabemos as enormes habilidades que têm para encontrar uma boa discussão num pacote que ficou meio aberto, ou uma gaveta que ficou mal fechada. Temos essa noção e lutamos constantemente por uma perfeição completamente utópica. Pela história da humanidade comprova-se que muitos desistiram a meio. Mas só para ganhar fôlego, voltaram sempre a tentar, são poucos aqueles que não meteram, de novo, a cabeça no cepo. Continuaremos sempre a insistir e há heróis que conseguem uma vida inteirinha partilhada com o furacão feminino. São raros os casos em que assumem uma vida sem justificações - fazer exactamente aquilo que lhes apetece, chamada uma vida livre, uma vida de sonho. A pergunta parece ser simples “porquê?” Será que existe uma resposta coerente? Uma das justificações pode ser o facto de o ser humano ter um instinto masoquista. Mas penso que o caminho não será por aí. Todos sabem...

A senhora que corria!

Corria a Senhora, e diga-se, com uma pressa como nunca a vi, quando uma das botas lhe salta. Voltará atrás? Será a pressa tão importante para mesmo assim continuar sem se preocupar com mais nada? … a senhora voltou mesmo atrás! Sentou-se no banco do jardim mais próximo e, com uma calma inesperada, descalça a outra bota e de dentro da mala puxa de um caixa que continha uvas podres! Indignada joga tudo para o lixo e volta a correr desalmadamente … Não viu que atravessara uma estrada muito movimentada. Foi tolhida por um camião! Pobre coitada. Todos lhe juravam um futuro risonho!