A palavra dentista, por si só, já nos suscita pensamentos bonitos.
Então um dentista em Angola, merece toda a nossa atenção !
O inicio desta linda história da vida real, começa quando sou obrigado a ir a um dentista aqui em Angola.
Parti um dente. Tudo bem o menino aguenta, porque ir a um sapateiro custa um bocadinho. Começa o subconsciente a dizer : É pá, mas parece que está a doer! Não faz mal porque, cada vez que viajo para Luanda, a minha bagagem de porão é sempre composta por uma farmácia e fraldas e dodots para o meu sobrinho.
"Mas continua a doer, Márcinho. Capaz de te deixar com um humor idêntico ao da Manuela Ferreira Leite !"
É pá então espera lá que se calhar dois Clonix’s no bucho podem fazer a diferença!
Olha, parece que não!
Não me digam que tem mesmo que ser ?
E lá vou eu feliz e contente marcar uma consulta para o Dr. Jamoné Salu !
Como ? Dr. Jamuné Salu ? Olha, bonito nome !
E é Angolano ? Não, ao que parece é da Guiné Conacri !
Muito mais descansado.
“Então amanhã por voltas da 14 horas. Sim senhor”
Lá vou eu, com suores frios no corpo e a tremer por todos os lados. Quando cheguei ao consultório fiquei muito mais descansado. O Dr. Jamuné era um senhor muito bem parecido. Alto, com uma barba descentrada, que por defeito de fabrico, apresentava um tufo na bochecha esquerda que fazia lembrar um rabo de um coelho selvagem, a fugir a um predador qualquer. A sua indumentária era de alto gabarito, tenizinho amarelo, camisa cor-de-rosa, um relógio de um verde florescente a condizer certamente com a mobília lá de casa, e umas calças de “pinça” que só não estavam amarrotadas, no devido vinco que separava o lado esquerdo do lado direito.
Digo eu :
- Moko sta ? Sta sabe ou cá Sta sabe ?
Dr. Jamuné :
- Uns ta dreto. Bo ta Fala Crioulo ?
Digo eu :
- Se eu falo Crioulo ? Claro que sim. Minta boca boca dera. Bo ta lembe o meu fanaro. Crika de Bo mae sta todo arriganhado!
Pronto e disse tudo o que sabia de crioulo.
Ele ficou feliz, eu também e iniciamos ali uma das experiências mais bonitas que eu tive na minha vida.
O consultório era composto por aquilo que eu considero a alta tecnologia da medicina moderna. Cadeira de cozinha para o Dr. se sentar. Todos os instrumentos de trabalho arrumados com uma organização, não idêntica, mas igual a uma caixa de ferramentas de um Carpinteiro de toscos da construção civil. A cadeira do paciente, sim senhor, era realmente uma cadeira de dentista, a merda é que o motor já não funcionava e ele tinha que fazer uma acrobacia esquisita, digna de um grande artista de circo, para conseguir ver o meu dente partido.
Pensam vocês que eu estou a exagerar.
Na verdade, eu não consigo transcrever o cheiro que se fazia sentir pelo aroma do suor Africano, já bem conhecido mundialmente, do Dr. Jamuné e as suas 3 assistentes !
Era uma mistura explosiva, que certamente fazia prever, que a anestesia não teria que ser tão forte como eu inicialmente pensava.
O Dr. iniciou o seu ritual, que é impossível explicar por palavras, e logo de seguida, com a ajuda das assistentes, colocou na minha linda boca, nada mais, nada menos, do que 12 ferramentas dentárias. Desde brocas, agulhas, algodão, “chupa salivas” a outros objectos com formatos que eu diria esquisitos.
De seguida o Dr. Jamuné achou por bem iniciar um diálogo.
- Então está emigrado em África ? e que tal, está a gostar ?
Estar emigrado, por si só, já é MARAVILHOSO. Num País de África… então a coisa avizinha-se um tanto ou quanto mais esplêndida ainda.
Explicar isto tudo com a boca atulhada não se previa nada fácil.
Respondo eu :
- Aahhhh, nhaacccc , chuiiiiii !
Traduzido :
“olhe, não … não estou emigrado em África. Estou emigrado é em Angola, que se não me engano fica algures ao lado da China! E estou, estou a adorar. Se fosse melhor, tenho a sensação de que estragava. Aliás, eu desde pequenino sempre tive um fascínio pela pré-história. Dos seus costumes e tudo o mais fantástico que a pré-civilização pode trazer.”
- Então está fascinado com o nosso País ? Ainda bem !
E eu :
-ruucchhh, pirttsssss chuuviiii !
Traduzido:
“Fascinado? Estou muito. Estou sim senhor. Neste momento, até estou a ter múltiplos orgasmos só na orelha esquerda ! Pode imaginar a euforia que vai dentro de mim !”
- Então e o que mais gosta neste País Tropical ?
E eu :
- Aahhhh, nhaacccc , chu0iiiiii !
Traduzido:
“Olhe, o que eu gosto muito mesmo, é do trânsito. Admiro pessoas que não ligam nenhuma às filas de carros. Que mostram a diferença seguindo o seu caminho por bermas e passeios. Os outros, burros, que fiquem na filinha à espera. Até tenho aqui esta fotografia no telémovel para você perceber o que lhe digo!”
Também gosto dos nomes bonitos que chamam às outras “raças”. Por exemplo aos Brancos chamam de : Cabrão, Filho da P***, Pó Cara***, A C*** da tua … ! e muitos mais nomes, que agora não me dá jeito citar, porque estou com 12 instrumentos dentro da minha boca !
O que também admiro, é quando cumprimentamos alguém com um ” Bom dia” ou “Como está”. A resposta para ambos os cumprimentos é sempre a mesma, passo a citar : Obrigado !
Lá está, agradecem e seguem a sua vida, o que mostra toda a sabedoria de um Povo.
Também lhe posso recitar os Lusíadas, agora que me habituei a falar com 12 instrumentos na boca, estou pronto para tudo. Não sei se lhe apetece ?”
- Se calhar para a próxima, porque terminámos agora mesmo de arranjar o seu dente !
Pronto, e saí eu do consultório deste grande Dr. Jamuné, feliz e contente, com a boca completamente de lado, devido à anestesia, e a babar-me, tal e qual um Pitbull o faz quando vê uma perninha de uma criança a correr !
Se o dente ficou bom ?
Posso dizer que quando cheguei a Portugal, nesse mesmo dia fui ao meu dentista, o Dr. Eduardo, que por azar é Português e que espantado perguntou-me:
- É pá, passou por aqui um ciclone !
Lá está, a dor de cotovelo de ver um trabalho bem feito.
A concorrência é sempre tramada!
Então um dentista em Angola, merece toda a nossa atenção !
O inicio desta linda história da vida real, começa quando sou obrigado a ir a um dentista aqui em Angola.
Parti um dente. Tudo bem o menino aguenta, porque ir a um sapateiro custa um bocadinho. Começa o subconsciente a dizer : É pá, mas parece que está a doer! Não faz mal porque, cada vez que viajo para Luanda, a minha bagagem de porão é sempre composta por uma farmácia e fraldas e dodots para o meu sobrinho.
"Mas continua a doer, Márcinho. Capaz de te deixar com um humor idêntico ao da Manuela Ferreira Leite !"
É pá então espera lá que se calhar dois Clonix’s no bucho podem fazer a diferença!
Olha, parece que não!
Não me digam que tem mesmo que ser ?
E lá vou eu feliz e contente marcar uma consulta para o Dr. Jamoné Salu !
Como ? Dr. Jamuné Salu ? Olha, bonito nome !
E é Angolano ? Não, ao que parece é da Guiné Conacri !
Muito mais descansado.
“Então amanhã por voltas da 14 horas. Sim senhor”
Lá vou eu, com suores frios no corpo e a tremer por todos os lados. Quando cheguei ao consultório fiquei muito mais descansado. O Dr. Jamuné era um senhor muito bem parecido. Alto, com uma barba descentrada, que por defeito de fabrico, apresentava um tufo na bochecha esquerda que fazia lembrar um rabo de um coelho selvagem, a fugir a um predador qualquer. A sua indumentária era de alto gabarito, tenizinho amarelo, camisa cor-de-rosa, um relógio de um verde florescente a condizer certamente com a mobília lá de casa, e umas calças de “pinça” que só não estavam amarrotadas, no devido vinco que separava o lado esquerdo do lado direito.
Digo eu :
- Moko sta ? Sta sabe ou cá Sta sabe ?
Dr. Jamuné :
- Uns ta dreto. Bo ta Fala Crioulo ?
Digo eu :
- Se eu falo Crioulo ? Claro que sim. Minta boca boca dera. Bo ta lembe o meu fanaro. Crika de Bo mae sta todo arriganhado!
Pronto e disse tudo o que sabia de crioulo.
Ele ficou feliz, eu também e iniciamos ali uma das experiências mais bonitas que eu tive na minha vida.
O consultório era composto por aquilo que eu considero a alta tecnologia da medicina moderna. Cadeira de cozinha para o Dr. se sentar. Todos os instrumentos de trabalho arrumados com uma organização, não idêntica, mas igual a uma caixa de ferramentas de um Carpinteiro de toscos da construção civil. A cadeira do paciente, sim senhor, era realmente uma cadeira de dentista, a merda é que o motor já não funcionava e ele tinha que fazer uma acrobacia esquisita, digna de um grande artista de circo, para conseguir ver o meu dente partido.
Pensam vocês que eu estou a exagerar.
Na verdade, eu não consigo transcrever o cheiro que se fazia sentir pelo aroma do suor Africano, já bem conhecido mundialmente, do Dr. Jamuné e as suas 3 assistentes !
Era uma mistura explosiva, que certamente fazia prever, que a anestesia não teria que ser tão forte como eu inicialmente pensava.
O Dr. iniciou o seu ritual, que é impossível explicar por palavras, e logo de seguida, com a ajuda das assistentes, colocou na minha linda boca, nada mais, nada menos, do que 12 ferramentas dentárias. Desde brocas, agulhas, algodão, “chupa salivas” a outros objectos com formatos que eu diria esquisitos.
De seguida o Dr. Jamuné achou por bem iniciar um diálogo.
- Então está emigrado em África ? e que tal, está a gostar ?
Estar emigrado, por si só, já é MARAVILHOSO. Num País de África… então a coisa avizinha-se um tanto ou quanto mais esplêndida ainda.
Explicar isto tudo com a boca atulhada não se previa nada fácil.
Respondo eu :
- Aahhhh, nhaacccc , chuiiiiii !
Traduzido :
“olhe, não … não estou emigrado em África. Estou emigrado é em Angola, que se não me engano fica algures ao lado da China! E estou, estou a adorar. Se fosse melhor, tenho a sensação de que estragava. Aliás, eu desde pequenino sempre tive um fascínio pela pré-história. Dos seus costumes e tudo o mais fantástico que a pré-civilização pode trazer.”
- Então está fascinado com o nosso País ? Ainda bem !
E eu :
-ruucchhh, pirttsssss chuuviiii !
Traduzido:
“Fascinado? Estou muito. Estou sim senhor. Neste momento, até estou a ter múltiplos orgasmos só na orelha esquerda ! Pode imaginar a euforia que vai dentro de mim !”
- Então e o que mais gosta neste País Tropical ?
E eu :
- Aahhhh, nhaacccc , chu0iiiiii !
Traduzido:
“Olhe, o que eu gosto muito mesmo, é do trânsito. Admiro pessoas que não ligam nenhuma às filas de carros. Que mostram a diferença seguindo o seu caminho por bermas e passeios. Os outros, burros, que fiquem na filinha à espera. Até tenho aqui esta fotografia no telémovel para você perceber o que lhe digo!”
Também gosto dos nomes bonitos que chamam às outras “raças”. Por exemplo aos Brancos chamam de : Cabrão, Filho da P***, Pó Cara***, A C*** da tua … ! e muitos mais nomes, que agora não me dá jeito citar, porque estou com 12 instrumentos dentro da minha boca !
O que também admiro, é quando cumprimentamos alguém com um ” Bom dia” ou “Como está”. A resposta para ambos os cumprimentos é sempre a mesma, passo a citar : Obrigado !
Lá está, agradecem e seguem a sua vida, o que mostra toda a sabedoria de um Povo.
Também lhe posso recitar os Lusíadas, agora que me habituei a falar com 12 instrumentos na boca, estou pronto para tudo. Não sei se lhe apetece ?”
- Se calhar para a próxima, porque terminámos agora mesmo de arranjar o seu dente !
Pronto, e saí eu do consultório deste grande Dr. Jamuné, feliz e contente, com a boca completamente de lado, devido à anestesia, e a babar-me, tal e qual um Pitbull o faz quando vê uma perninha de uma criança a correr !
Se o dente ficou bom ?
Posso dizer que quando cheguei a Portugal, nesse mesmo dia fui ao meu dentista, o Dr. Eduardo, que por azar é Português e que espantado perguntou-me:
- É pá, passou por aqui um ciclone !
Lá está, a dor de cotovelo de ver um trabalho bem feito.
A concorrência é sempre tramada!
Muahahahaha! Os teus textos estão cada vez melhores. :D
ResponderEliminarBem sei q é tudo ficção, loool, e q até nem estás nada em Angola, mas pronto. :P