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DEIXA-O-RESTO

Há um dos patos que passa o dia todo a afugentar o outro macho e, segundo a Tia, esquece-se por completo de fazer companhia às patas


Fomos visitar a Tia Sidónia. A visita costuma ser esporádica pela distância que nos separa: A Sidónia vive em Deixa-o-resto e nós em Lisboa. A Tia tem 84 anos e como sempre, se estivermos atentos e com disponibilidade, tem muito a nos ensinar. Falámos de temas que não são correntes no dia-a-dia porque não se encontra esta sabedoria ao virar da esquina. Começou por nos oferecer laranjas. Aceitámos de imediato e rapidamente me disse onde estava o escadote. Para os mais distraídos, como eu, poderíamos pensar que nos indicaria onde estava, à nossa espera, um saco de asas a um qualquer canto da cozinha, ou mesmo lá fora junto à porta da entrada. O escadote, ao invés do saco de plástico, dava-nos a possibilidade de escolher as melhores laranjas das diversas árvores que estavam plantadas ao longo do quintal. Enquanto me empoleirava na primeira árvore, a Tia Sidónia com uma vassoura em riste começou a ralhar com um dos patos que se cruzou no nosso caminho. E com toda a razão depois de nos explicar o porquê de tamanho raspanete: A Tia Sidónia tem dois patos e sete patas. Há um dos patos que passa o dia todo a afugentar o outro macho e, segundo a Tia, esquece-se por completo de fazer companhia às patas. Ou seja não quer que o outro se aproxime das patas, mas ele próprio, com esta obcessão, se afasta do essencial: As patas. Quantos de nós não nos afastamos da nossa própria essência esforçando-nos e desperdiçando energias com coisas, ou pessoas, que não interessam?
Assim, com laranjas e meia dúzia de patos, temos as nossas vidas espelhadas de uma forma tão básica e cruel que quando nos apercebemos chega a ser assustador. Guardei o escadote junto ao murete onde, inicialmente, o tinha ido buscar e já me dirigia para a porta de saída de mãos vazias quando me apercebi que me tinha esquecido das laranjas. Voltei para trás e aproveitei o momento para me despedir da Tia Sidónia com uma abraço apertado e naquele momento, e mais uma vez, o pato enfurecido corria desalmadamente atrás do outro. Fiz uma jura a mim mesmo: Ponho a minhas “patas” no fogo como vou estar cada vez mais atento às “patas” da minha vida.

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

É desta!

É verdade, chegou ao fim e será para todos nós um grande alívio. Este Blogue começou em Angola, pelo facto de estar longe da minha terra e pela necessidade de exprimir o que me ia na alma. Já se passaram 4 anos, nunca eu pensei que estaria cá tanto tempo, e para mim, não faz mais sentido continuar. Tudo o que começa a ser forçado é o primeiro indício de que tem que acabar. E acaba. Só me resta agradecer a todos os que gostaram de aqui estar, e agredeço também aos que não gostaram - Como na morte, a despedida deve ser sempre camuflada pelo sentimento nobre. Obrigado a todos e encontramo-nos por aí!

Sexta-feira 13

É engraçado constatar que a maioria das pessoas não é supersticiosa: “Eu não acredito nada nessas coisas” Hoje é sexta-feira 13 e foram poucas as pessoas, emigradas em Angola, que arriscaram marcar a viagem para ir de férias neste dia. Por curiosidade, ontem fiz Check in de um colega corajoso que ia viajar precisamente hoje. Todas as filas já estavam praticamente ocupadas, menos a fila 13 ! Realmente era demasiado macabro ir numa sexta-feira 13 e ainda por cima ter a coragem de marcar a viagem na fila 13. Nem uma unica pessoa tinha marcado lugar nesta fila. Como se desse azar. Tem toda a lógica. Todas as outras filas vão viajar tranquilamente, mas a 13 não vai ter descanso. Eu sinceramente também não acredito nessas coisas. Ser ou não ser sexta-feira 13 é-me completamente indiferente. Dá-me é azar, mas de resto…

OLÉ