É verdade que não mudo a vida de ninguém com textos inspiradores. Nunca na vida alguém sairá daqui mais culto, informado, ou com o sentido da vida mais apurado.
Ontem, inesperadamente, bateram-me nas costas e disseram “É pá, sim Senhor… li aquele teu texto sobre a morte e fartei-me de rir!”. Confesso que me senti como se fosse uma garbosa figura pública e instintivamente procurei a minha caneta para assinar qualquer papelinho e agradecer o suposto elogio. Claro que rapidamente me passou este massajar do ego, mas é de facto um privilégio e uma honra continuar a escrever e descobrir que pessoas, que nunca na vida imaginaria que poderiam vir a este espaço, o fazem regularmente e ainda por cima com prazer. Porém, o elogio vir de alguém que se ri de um texto sobre a nossa própria finitude poderá, na maior parte das vezes, não ser a melhor forma de partilhar o seu apreço. Neste caso, e para mim, foi ainda mais saboroso.
Como sabemos tudo na vida só faz sentido com partilha, por muito que se diga ou se tente acreditar no contrário. É verdade que não mudo a vida de ninguém com textos inspiradores. Nunca na vida alguém sairá daqui mais culto, informado, ou com o sentido da vida mais apurado. Temos sempre a tendência (e eu também a tenho) de comparar textos, livros, pensamentos como se uns fossem melhores, ou mais válidos, que outros. No fundo a minha intenção, nos textos que partilho, é que descubram que há pessoas que não têm, rigorosamente, nada para vos oferecer. Se continuam a vir aqui – pensem nisto – faz com que vocês se tornem melhores pessoas. Gente que não espera nada em troca.
Um dia destes à conversa com o Rui Pedro ele disse-me que tinha ido passar uns dias a Angola. O Rui embora seja uma pessoa baixinha, equilibra a balança com a sua alta capacidade de tratar bem as pessoas. Quando se é director de alguma coisa, nem que seja de uma obra, fica-se com a tendência e convicção de que um ar sério e distante seja a melhor forma de liderar. Bem, mas cada um lidera como pode e sabe e se Deus Nosso Senhor já tem as suas falhas imaginem um homem das obras. Voltando a Angola, pode parecer um cliché dizer isto, mas aquela terra deixa marcas profundas e das primeiras coisas que me contou foi que nos condomínios havia, novamente, falta de água e luz - como no início quando “caímos” naquela realidade. Ficará para outra altura um texto sobre aquele País, aquela gente e aquela família, mas, e tentando fazer um paralelismo, Angola com o pouco ou nada que aparentemente nos tem para oferecer se transforma num sítio muito parecido com este espaço. É certo que um pouco maior, com mais calor e muito provavelmente com mais mosquitos, mas o lixo nas bermas das estradas deve ser idêntico e quase o mesmo. Quem se concentra somente no lixo pode correr o sério risco de sair (de qualquer um dos sítios) com ainda mais porcaria na bagagem de que quando entrou. Se for para isso, diria que mais vale a pena não entrar.