Eu sou o Pai Natal. É verdade, desvendo aqui este mistério. Todos os anos saio de fininho da sala da casa dos meus Pais e vou para o quarto deles, também de fininho, mascarar-me de Pai Natal. O último ano não correu nada bem, confesso. As crianças são peritas em pormenores e, como sabemos, conseguem ver coisas que pensamos que passarão despercebidas. Estava tudo perfeito – a barba, o gorro, o fato e até pus a almofada mais arredondada para formar a mítica barriga do homem que desce pelas chaminés.
Olho-me ao espelho uma dúzia de vezes e chamo os meus irmãos para verificarem se está tudo impecável. Eles, já bêbados, vêem menos que um burro com palas e riem-se ao mesmo tempo que me dão palmadinhas nas costas como quem prevê um momento hilariante para a pequenada. Entro na sala, como em todos os anos, encurvado com a voz rouca e com o saco das prendas numa mão e uma bengala na outra. Ponho uns óculos escuros, grandes, que me ocupam grande parte da cara: Estas pestes são pequenos ratos astutos e não posso descurar em nada.
A minha mãe é quem mais se diverte com este pequeno teatro – Mal bato à porta e já se escangalha a rir. Peço sempre um lugar confortável para me sentar e normalmente esse lugar é escolhido com o cuidado de estar o mais próximo possível e de frente para os pequenos monstros. Tudo corria deliciosamente bem demais. Começo com um pequeno discurso motivacional cruzando os grandes temas existenciais da pequenada, que como toda a gente sabe, passa por testar todos os limites dos Pais e levá-los a sítios que eles nunca imaginavam ser possível. Tento não ser demasiado longo e motivo-os para continuarem, com a persistência que lhes é característica, a irem cada vez mais longe. É preciso evoluir nos patamares de exigência e uns bons Pais têm que passar por eles, pelos ditos patamares, com distinção, e só assim se chega ao topo desta carreira.
A seguir e sem demoras parto para o mais importante - Os presentes!
E aqui é bom explicar-lhes que cada adulto é possuidor de, no máximo, duas prendas. Enquanto eles, pequenos trastes, que passam a vida a brincar e de papo para o ar levam tantos presentes quantos os que a sociedade nos exige ao ponto de parecer mal não dar presentinhos às crianças. Todos compram prendas para eles. Ninguém se atreve a chegar à noite de Natal de mãos vazias e dizer: “ Meus pelintras, o Natal não existe, é uma farsa, um negócio e por isso não comprei nada a ninguém!”
Era um cenário bonito, sim senhor, e evitava-se, para além dos gastos, uma pachorra imensa nos Shoppings à pinha de gente. Mas não nos desviemos desta história, a seguir começa a distribuição, completamente aleatória, dos presentes: Um para o Tiago, outro para a Inês e por último o Guilherme. O Tiago é o mais crescido e já sabe que o Pai Natal, para além de não existir, é o Tio que finge que ele existe. Não que eu lhe tivesse contado ou que tivesse uma má prestação e fosse desmascarado por ele, mas porque o meu irmão acha que não se deve mentir às crianças. Acho que antes do Tiago saber falar já o meu irmão lhe dizia, insistentemente, que o Pai Natal não existe. E aí, meus amigos, cada um educa os seus como quer, sabe e pode. Não me meto a menos que, em desespero, queiram mandar a criança pela janela. Portanto, todo este meu esforço, de me mascarar de Pai Natal, se resume, para além da minha mãe, à Inês e ao Guilherme. A Inês, a mais pequenina e com 4 anos, olha deslumbrada para o homem de vermelho e recebe as prendas de boca aberta, não sei se fascinada ou com medo e para meu próprio orgulho não me atrevo a perguntar. Segue o Guilherme e reparo que ele olha de lado para mim mas ao mesmo tempo fascinado, como quem recebe de bom grado os presentes mas não confia em quem lhos dá. Ao terceiro presente que lhe dou diz-me:
- Pai Natal, tens o mesmo anel que o meu Tio! - pergunta com o olho esquerdo rebaixado.
- Anéis há muitos meu pequenino e alguns são iguais aos outros! – responde, como pode, o Pai Natal.
- E as pantufas também são iguais! – ataca com um golpe que dificilmente não será fatal.
- As pantufas estavam à entrada de casa e como perdi as minhas botas, no caminho em cima do trenó a ser puxado pelas renas, e para ficar com os pés quentinhos, calcei-as!
Olhou para mim dois segundos e de seguida levantou-se a correr em direcção à cozinha. Veio de lá no mesmo passo que foi e com um chouriço na mão diz-me: - Come lá um bocado!
Ele sabe que o Tio não come carne – Os motivos são como quem, por exemplo, escolhe não consumir drogas! - Por isso seria simples provar se aquele era, ou não, o verdadeiro Pai Natal. Porque ele existe meus amigos, anda é muita gente a tentar roubar-lhe o lugar e, a esses, as crianças não perdoam e fazem-lhe a folha!
Aproveito para vos desejar um feliz Natal e obrigado por gostarem de vir aqui a este espaço que, como tantos os outros, é inútil, mas dá para passar o tempo!
Olho-me ao espelho uma dúzia de vezes e chamo os meus irmãos para verificarem se está tudo impecável. Eles, já bêbados, vêem menos que um burro com palas e riem-se ao mesmo tempo que me dão palmadinhas nas costas como quem prevê um momento hilariante para a pequenada. Entro na sala, como em todos os anos, encurvado com a voz rouca e com o saco das prendas numa mão e uma bengala na outra. Ponho uns óculos escuros, grandes, que me ocupam grande parte da cara: Estas pestes são pequenos ratos astutos e não posso descurar em nada.
A minha mãe é quem mais se diverte com este pequeno teatro – Mal bato à porta e já se escangalha a rir. Peço sempre um lugar confortável para me sentar e normalmente esse lugar é escolhido com o cuidado de estar o mais próximo possível e de frente para os pequenos monstros. Tudo corria deliciosamente bem demais. Começo com um pequeno discurso motivacional cruzando os grandes temas existenciais da pequenada, que como toda a gente sabe, passa por testar todos os limites dos Pais e levá-los a sítios que eles nunca imaginavam ser possível. Tento não ser demasiado longo e motivo-os para continuarem, com a persistência que lhes é característica, a irem cada vez mais longe. É preciso evoluir nos patamares de exigência e uns bons Pais têm que passar por eles, pelos ditos patamares, com distinção, e só assim se chega ao topo desta carreira.
A seguir e sem demoras parto para o mais importante - Os presentes!
E aqui é bom explicar-lhes que cada adulto é possuidor de, no máximo, duas prendas. Enquanto eles, pequenos trastes, que passam a vida a brincar e de papo para o ar levam tantos presentes quantos os que a sociedade nos exige ao ponto de parecer mal não dar presentinhos às crianças. Todos compram prendas para eles. Ninguém se atreve a chegar à noite de Natal de mãos vazias e dizer: “ Meus pelintras, o Natal não existe, é uma farsa, um negócio e por isso não comprei nada a ninguém!”
Era um cenário bonito, sim senhor, e evitava-se, para além dos gastos, uma pachorra imensa nos Shoppings à pinha de gente. Mas não nos desviemos desta história, a seguir começa a distribuição, completamente aleatória, dos presentes: Um para o Tiago, outro para a Inês e por último o Guilherme. O Tiago é o mais crescido e já sabe que o Pai Natal, para além de não existir, é o Tio que finge que ele existe. Não que eu lhe tivesse contado ou que tivesse uma má prestação e fosse desmascarado por ele, mas porque o meu irmão acha que não se deve mentir às crianças. Acho que antes do Tiago saber falar já o meu irmão lhe dizia, insistentemente, que o Pai Natal não existe. E aí, meus amigos, cada um educa os seus como quer, sabe e pode. Não me meto a menos que, em desespero, queiram mandar a criança pela janela. Portanto, todo este meu esforço, de me mascarar de Pai Natal, se resume, para além da minha mãe, à Inês e ao Guilherme. A Inês, a mais pequenina e com 4 anos, olha deslumbrada para o homem de vermelho e recebe as prendas de boca aberta, não sei se fascinada ou com medo e para meu próprio orgulho não me atrevo a perguntar. Segue o Guilherme e reparo que ele olha de lado para mim mas ao mesmo tempo fascinado, como quem recebe de bom grado os presentes mas não confia em quem lhos dá. Ao terceiro presente que lhe dou diz-me:
- Pai Natal, tens o mesmo anel que o meu Tio! - pergunta com o olho esquerdo rebaixado.
- Anéis há muitos meu pequenino e alguns são iguais aos outros! – responde, como pode, o Pai Natal.
- E as pantufas também são iguais! – ataca com um golpe que dificilmente não será fatal.
- As pantufas estavam à entrada de casa e como perdi as minhas botas, no caminho em cima do trenó a ser puxado pelas renas, e para ficar com os pés quentinhos, calcei-as!
Olhou para mim dois segundos e de seguida levantou-se a correr em direcção à cozinha. Veio de lá no mesmo passo que foi e com um chouriço na mão diz-me: - Come lá um bocado!
Ele sabe que o Tio não come carne – Os motivos são como quem, por exemplo, escolhe não consumir drogas! - Por isso seria simples provar se aquele era, ou não, o verdadeiro Pai Natal. Porque ele existe meus amigos, anda é muita gente a tentar roubar-lhe o lugar e, a esses, as crianças não perdoam e fazem-lhe a folha!
Aproveito para vos desejar um feliz Natal e obrigado por gostarem de vir aqui a este espaço que, como tantos os outros, é inútil, mas dá para passar o tempo!