Ele era o maior. Nunca lembro de ser menos que isto. O impossível estava sempre dentro dos seus parâmetros. Lembro-me, como se fosse hoje, que os seus discursos não davam espaço a outras vozes. As opiniões dos outros eram uma espécie de um sopro fraco numa vela a precisar de vendavais. De peito feito a tudo o que mexia a sua convicção era impenetrável. Até um dia - E não digo isto como se lhe desejasse um mau presságio - O homem era mesmo admirável. Num dos dias das suas inúmeras palestras, onde havia sempre choro, alaridos e mulheres que desmaiavam, uma rapariga, com os seus 23 anos, pediu a palavra com a mão no ar. Não foi mais do que isto e, por incrível que pareça, aquele gesto simples com o braço levantado, chamou a atenção de quase metade da plateia, incluindo, claro está, do orador. Subiu ao púlpito com uma calma e tranquilidade intransponível. Era de pele morena e cabelo comprido e encaracolado. Usava um vestido simples e na mão tinha, ao que parecia à distância a que eu estava, uma espécie de instrumento de sopro. Bateu, com a palma da mão esquerda, duas vezes no microfone e o silêncio passou a ser absoluto. Levou à boca o instrumento. Manteve-se imóvel e sem fazer qualquer barulho durante tanto tempo quanto o que era necessário para o silêncio se manter. De seguida o seu sopro fez ecoar um som estridente, agudo e quase insuportável. Num movimento repentino parou com as mãos esticadas junto ao corpo e sorriu. Bateu, novamente, duas vezes no microfone e disse as seguintes palavras, que até hoje nunca mais foram esquecidas: Voltarei quando for necessário!
E nunca mais aquele palanque teve oradores que não lhes tremesse as pernas quando subiam os três degraus para discursar!