Ontem à noite.

Ontem à noite, enquanto fumava um cigarro, reparei, mais uma vez, no meu vizinho Chinês que teimava em gastar o pavimento do pátio da sua casa e que só por azar também é a obra onde trabalha. Não têm luz, porque os geradores estão pela hora da morte, e a luz de rede teima, desde a independência de Angola, em vir quando lhe apetece.
Com o que se entreterá este pobre homem, se não com os seus pensamentos?
Rapidamente me passou o sentimento de pena e voltei para dentro. Sentia-me aborrecido, não sabia o que fazer: Ver um filme? Jogar um jogo? Ler um livro?
Não me apetecia fazer nada e irritava-me o facto de não ter o suficiente para fazer. Já culpei tanta gente por menos e agora, quando mais precisava, não estava ali ninguém para culpar.
Com o remoer deste sufocante infortúnio, passou-se o tempo suficiente para me apetecer queimar, ainda mais tempo, com um cigarro. Passámos a ser dois a pensar sobre a vida. Como ela corre…
Acabo a última passa, com a mesma pena das beatas que se amontoavam no cinzeiro, e sem a dormência cerebral de um charro, que me pregaria sentado no sofá a ver qualquer novela mexicana.
Contei carneiros imaginando as tristes figuras de quem tem insónias e rapidamente a minha novela chegou ao fim.