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SÓ ME OCORRE PARA ESTE TÍTULO A PALAVRA: CU

Esta é uma história da vida real. Seria uma história como outra qualquer se não fosse eu o protagonista. Estávamos em pleno Verão quando eu me escapava de Lisboa e ia a caminho do Alentejo. A terra dos meus Avós - Ourique para ser mais preciso. A primeira noite naquela terra era sempre mágica. Dormia pela metade o que me valia pelo dobro. Acordava mais cedo do que me lembrava até então. Tão cedo que eu cacarejava primeiro que as galinhas. Aproveitava a hora calma para ver se elas me tinham presenteado com algum ovo. Normalmente, pensava eu, tinha sempre sorte. Era como se todo Universo se unisse e com toda a sua magnitude me quisesse ver feliz. Nada dependia do Cu das galinhas, mas de um poder maior. Tudo era perfeito e eu sentia-me, por completo, pertencente a este mundo. Mas esse Universo não era nada mais do que a minha Avó, a Antónia. O que tinha de inteligência a bondade acompanhava. Era ela que punha os ovos. Sim, aqueles que eu apanhava, na sua maioria, eram postos por ela. Não que lhes saíssem do esfíncter, tenhamos respeito, mas para me ver feliz lá ia às escondidas por o ovo para me chamar de seguida. Como a mentira tem perna curta achei estranho os ovos estarem sempre frios. Tudo o que vem do cu, vem quentinho. Isso toda a gente sabe. A crueldade daquela realidade foi um desgosto tremendo e uma das minhas maiores crenças foi por água abaixo. Os dias seguintes foram dificílimos e nem preciso dizer que não voltei ao galinheiro. As galinhas passaram de um amor platónico a um desejo tremendo que se transformassem todas em arroz de cabidela. O que me salvou foi a rega. Era uma das outras facetas que eu ainda acreditava. Os carreiros feitos com rigor e minúcia, para que não tivéssemos que andar de um lado para o outro com a mangueira, não me encantavam. Preferia percorrer todos os recantos, conhecer todas as espécies que por ali habitavam. “Isso é uma nespereira seu burro!” gritava a Antónia, com alguma altivez, para um menino mimado da cidade que pensava que todas as frutas caiam da mesma árvore - a natureza sempre teve a mania de complicar as coisas. Tudo era encantador naquele Alentejo profundo apesar de algumas aprendizagens serem cruéis. Uma bicicleta era o meu transporte diário. Tinha sempre várias capelinhas para visitar: o meu primo Alberto, o primo João, a encantadora prima Carla, a Tia enérgica e afoita Lucília e o Tio Farias. O meu tio Farias sempre teve a cara fechada, um bigode enorme mas era o que tinha mais paciência para a pequenada. Levava-nos a passear, com alguma frequência, no jipe para o monte que ele tinha e que servia como o seu retiro espiritual. Ele chamava-lhe outra coisa, algo do género “para não me chatearem os cornos” mas o significado, penso eu, era basicamente o mesmo. Chegando ao monte virávamos adultos. Ali ninguém era pequenino. O meu Tio desde cedo se apercebeu de como nos entreter e assim servir-se do verdadeiro prepósito daquele retiro e punha-nos uma espingarda na mão. Sabia que iria ter umas horas de sossego. Eu, e o meu primo João, íamos à caça de tudo o que mexia. Fosse o que fosse, levava chumbo. Um dia matámos uma criança… estou a brincar. Ela escapou-se com vida porque os chumbos de uma espingarda nunca mataram ninguém. Foi pena. Mas levou umas belas chumbadas no rabo. Nunca gostámos dele porque no terreno que era do Pai, tinha um tanque onde ele se pavoneava e chapinhava na água para chamar a nossa atenção. Resolvemos essa suposta superioridade com chumbos no rabo. Eramos crianças e na altura pareceu-nos que ignorar não seria, de todo, a melhor resposta ou solução. No fim daquelas tardes o meu Tio levava sempre, para o lanche, pão Alentejano, um requeijão em forma de bola de rugby mas achatado por baixo e umas azeitonas maravilhosas. Enquanto nós bebíamos sumo ele derrubava dois jarritos de vinho. Só não bebíamos com ele, ou às escondidas, porque como todos sabemos o vinho para principiantes não sabe bem. Mas tentámos diversas vezes porque, na ignorância, pensávamos que a transformação que o meu Tio sofria depois daqueles dois jarros não era assim tão difícil de disfarçar caso conseguíssemos beber um dos jarros a dividir pelos dois. Isso em determinada altura aconteceu. Posso dizer que o meu Primo se portou de maneira impecável- Adormeceu. No meu caso foi mais difícil de disfarçar porque quando quis explicar, após ter caído de cu, que estava bem e que não tínhamos feito nada, parece que não fui bem-sucedido. O que tenho na memória do meu primeiro estado de alcoolémia terminou aqui e recomeçou com os berros do meu Pai quando acordei. Foi um regresso à consciência trágico, até porque o meu Primo sempre teve tendências sexuais diferentes das minhas, nada que eu fosse preconceituoso, mas eu acordei com uma dor forte no rabo, não me lembrava de nada e o magano sempre foi de pregar partidas.

Comentários

TEXTOS QUE ME ENTRISTECEM

É desta!

É verdade, chegou ao fim e será para todos nós um grande alívio. Este Blogue começou em Angola, pelo facto de estar longe da minha terra e pela necessidade de exprimir o que me ia na alma. Já se passaram 4 anos, nunca eu pensei que estaria cá tanto tempo, e para mim, não faz mais sentido continuar. Tudo o que começa a ser forçado é o primeiro indício de que tem que acabar. E acaba. Só me resta agradecer a todos os que gostaram de aqui estar, e agredeço também aos que não gostaram - Como na morte, a despedida deve ser sempre camuflada pelo sentimento nobre. Obrigado a todos e encontramo-nos por aí!

Sexta-feira 13

É engraçado constatar que a maioria das pessoas não é supersticiosa: “Eu não acredito nada nessas coisas” Hoje é sexta-feira 13 e foram poucas as pessoas, emigradas em Angola, que arriscaram marcar a viagem para ir de férias neste dia. Por curiosidade, ontem fiz Check in de um colega corajoso que ia viajar precisamente hoje. Todas as filas já estavam praticamente ocupadas, menos a fila 13 ! Realmente era demasiado macabro ir numa sexta-feira 13 e ainda por cima ter a coragem de marcar a viagem na fila 13. Nem uma unica pessoa tinha marcado lugar nesta fila. Como se desse azar. Tem toda a lógica. Todas as outras filas vão viajar tranquilamente, mas a 13 não vai ter descanso. Eu sinceramente também não acredito nessas coisas. Ser ou não ser sexta-feira 13 é-me completamente indiferente. Dá-me é azar, mas de resto…

OLÉ