Demos um ar renovado a este espaço e olhem que giro que ficou! Fizemos bem. Somos daqueles que achamos que tudo, se assim for possível, merece uma mudança. Para nos olharem da mesma maneira mas de um modo diferente. Tudo aborrece se todos os dias estiver igual. Mudar uma simples coisa do lugar faz com que tudo à volta fique diferente. Já não está da mesma maneira. Aquela jarra antes não estava do lado esquerdo da santinha vermelha feita em cera. Agora está do lado direito e mais escondida para trás. Já não é o elemento principal. Passou a ser uma simples peça cerâmica num papel secundário. É triste – uma vida toda a ser a protagonista. Todos reconheciam a sua imponência mas os rumores já não se deixam agarrar. Já todos sabem, e comentam, com uma tristeza profunda carregada de malicia: «Sabes quem é que caiu em desgraça?», perguntam com ironia. De seguida dão a resposta com um sorriso interior que não conseguem disfarçar «A jarra que estava à frente da santinha vermelha feita em cera!» As pessoas anseiam uma mudança que seja dramática na vida dos outros. Mas não é este o caso. Nós aqui mudamos e não tiramos o mérito ao belíssimo aspecto que tínhamos anteriormente. Mas o seu tempo terminou. Não há que esconder isso e quando se chega perto do fim é arrasador. Eu vejo os mais velhos e tenho um profundo respeito e admiração. Deve ser dificílimo ver o fim mais perto. Mas não há volta a dar e o que nos move é a esperança de um dia lá chegar com alguma dignidade. Não precisaremos mais do que alguém que goste de nós, alguém que nos venha visitar. E se vier por gosto acaricia-nos o coração.
Mais uma curta metragem que tem tudo para não ser vista. http://seguesoma.blogspot.com/
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