Acho que já todos reparamos que o pobre começou a adoptar o nome de rico para os seus filhos. Agora na Brandoa começou a surgir os Santiagos, na Damaia os Martins, na Amadora os Lourenços e sabe Deus onde isto vai parar.
Os ricos estão em desespero porque quando chamam o seu Martim, olham mais dois ou três com o ranho no nariz e com as mãos cheias de lama. A confusão está lançada porque os ricos não sabem que nomes darão, nas próximas gerações, aos seus filhos. Adoptar os nomes que os pobres usavam poderá ser um risco elevado, na medida que as modas passam e os nomes, ao que parece, vão ficando. Imaginem um Joaquim (Quim), um José (Zé) ou até um Manuel (Manél) a ser entoado pelas ruas da Lapa. Só de pensar até arrepia. Em Cascais já existem reuniões secretas de intelectuais de esquerda sugerindo algo diferente. O desespero é de tal ordem que o “Pantufa” e o “Pirussas” estão a ser equacionados. Porém descer tão baixo com a esperança que o pobre não corra atrás poderá ser a aniquilação do que nos identifica. Mas todo este cenário aterrador não fica por aqui: Em Odivelas, e isto ouvi eu, ninguém me contou, o homem que assa os frangos, imaginem que nem era o dono da Charcutaria, chamou a filha como se de uma estranha se tratasse - “Matilde, você pode chegar aqui que eu já a chamei por duas vezes!”
Eu sei que há mais Marias na terra, mas ninguém, neste momento, consegue garantir por quanto tempo... e se uma mão lava a outra e as duas lavam a cara seria bom, para todos, que pelo menos se retirasse da equação o ranho do nariz.