Eram dois pardalinhos, vi-os eu, a voar todos contentes. Um
atrás do outro e iam-se revezando. Depois era o outro que ia na frente. A
fachada do edifício que agora conheço como meu local de trabalho, é em vidro.
Mas é um vidro espelhado que reflecte três ou quatro árvores que por esta
altura têm o seu ramalhete por metade. Para além das árvores reflecte tudo o
resto que está à volta, não descrimina nada e reflecte a realidade, mas com um
brilho diferente. Seria essa a dica para que estes pardais percebessem que a
realidade anda sempre disseminada. No rescaldo de uma curva procedida de um
looping de alto gabarito, só ao alcance de quem nasceu para voar, ouve-se um
“pack” quase silencioso e sem eco. Tudo acabou ali. Parece impossível que a
fronteira seja tão estreita entre a vida e a morte. Está como uma sombra mesmo que
o momento nos pareça perfeito. Poderíamos ficar com a tristeza por aqui mas o
ninho de sete ou oito, não tenho bem a certeza, bocas esfomeadas dramatizou
ainda mais o fim trágico de uma família. O chilrear tornou-se aterrador quando
o colega ao lado apaga a beta no cinzeiro e diz: - Só de pensar que hoje ainda
é terça-feira…
Mais uma curta metragem que tem tudo para não ser vista. http://seguesoma.blogspot.com/
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