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“Mãe é o teu filho! Mãe!”

Passavam poucos minutos das cinco da manhã quando acordo com um tilintar que vinha da cozinha. Sou mãe solteira e moro num sítio seguríssimo. Mas, mesmo assim, nunca acredito na cabeça dos outros e levanto-me sobressaltada e com passos ligeiros vou ver o que se passa. Pego num pau que tenho encostado junto à cabeceira que serve somente para não deixar a porta do roupeiro se abrir a meio da noite. A mola está partida há anos. E neste caso, o pau, serviria para eu me sentir mais segura, somente isso. Abro a porta do meu quarto devagarinho e constato que está realmente alguém na cozinha. O meu filho disse que iria passar um fim-de-semana com a namorada e essa constatação fez com que o meu coração disparasse a mil. Toda eu tremia! Sem que eu pudesse controlar paralisei, sem conseguir dar mais nenhum passo, quando o tilintar que me tinha acordado passou a um chavascal de panelas, pratos, talheres e gavetas a fecharem-se com um estrondo tremendo. Quem ali estava não tinha medo de fazer barulho ou acordar alguém. Estava para arrasar completamente aquela casa. Fiquei branca de súbito e estatelei-me no chão. O barulho parou de repente e o monstro caminhava na minha direcção. Na penumbra em que o meu cérebro estava não consegui ver mais do que um par de sapatos a aproximar-se. Eu conhecia a voz que me tentava dizer qualquer coisa. A pessoa estava completamente bêbada ou drogada. Ou então as duas. Agarrou em mim e eu sem poder fazer nada. Comigo ao colo tropeçou, sabe Deus no quê, e voltei a estatelar-me no chão. Com uns puxões dali, uns puxões daqui dei por mim de novo em cima da cama. Pensei que ia ser violada. Tudo me passou pela cabeça menos ouvir o que iria ouvir a seguir numa voz completamente embrulhada “Mãe é o teu filho! Mãe!” Acordei daquele sonho horrível! Meu Deus tinha sido tão real. A cambalear vou à casa de banho e passo a cara por água. Quando me estou a limpar, defronte para o espelho, a minha testa denunciava que nada tinha sido um sonho. Uma nódoa negra gigantesca. Num relâmpago vou à cozinha e tudo estava remexido. Percorro todos os compartimentos e na sala, com um vómito nojento junto à boca, estava o meu filho a dormir no chão. Juraria que ele me tinha dito que ia passar o fim-de-semana com a namorada.

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Saber não fazer nada é cada vez mais uma arte - já falei sobre isto – e nos dias que correm, porque o tempo não pára, faz-me cada vez mais sentido. Numa sociedade que nos suga e nos impinge objectivos, os meus, os objectivos, são cada vez menos. Não tenho grandes metas, mas tenho uma grande meta: Ter a possibilidade de não ter nada para fazer. E isto, meus amigos, não se alcança do pé para a mão. Poder não fazer nada é cada vez mais uma bênção que poucos podem alcançar. A rapidez dos dias de hoje sega-nos. Será propositado? Talvez, mas o facto de não nos darem tempo para fixarmo-nos num ponto, para podermos observar com calma, torna tudo numa montanha linda e apejada de lixo. Por isso, como poderemos acalmar e abrandar a azafama da nossa vida, do nosso ninho familiar? Lá fora podem andar todos a mil à hora, numa tormenta de carneiros. Será que conseguimos escapar deste trilho? Sim, podemos. Como? Comprando o tempo. Só com dinheiro do nosso lado poderemos dizer que “não” a muita ...

Mulheres

Os homens não se medem aos palmos, já as mulheres ninguém tem ideia de como é que se podem medir. Todos sabemos as enormes habilidades que têm para encontrar uma boa discussão num pacote que ficou meio aberto, ou uma gaveta que ficou mal fechada. Temos essa noção e lutamos constantemente por uma perfeição completamente utópica. Pela história da humanidade comprova-se que muitos desistiram a meio. Mas só para ganhar fôlego, voltaram sempre a tentar, são poucos aqueles que não meteram, de novo, a cabeça no cepo. Continuaremos sempre a insistir e há heróis que conseguem uma vida inteirinha partilhada com o furacão feminino. São raros os casos em que assumem uma vida sem justificações - fazer exactamente aquilo que lhes apetece, chamada uma vida livre, uma vida de sonho. A pergunta parece ser simples “porquê?” Será que existe uma resposta coerente? Uma das justificações pode ser o facto de o ser humano ter um instinto masoquista. Mas penso que o caminho não será por aí. Todos sabem...

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