Agora que passou algum tempo após o seu trágico acidente, dedicar-lhe umas linhas é o mínimo que eu posso fazer. É um dos poucos que marcou a diferença. Não porque tivesse uma liderança de génio, porque essas só existem no nosso imaginário, mas porque todos o conheciam verdadeiramente. Com ele não havia manchas cinzentas, obscuras, indecifráveis. Era o Zé Correia e todos tinham a noção que com ele podíamos pedir tudo. Para isso era preciso alguma calma. Entrar na sua bolha de protecção não era difícil e consegui isso com duas ou três conversas - sinceras e sem receio. Depois de entrarmos os medos eram poucos numa terra onde eles andam por todo o lado e sempre prontos a apanhar-nos. O seu escudo era incrivelmente seguro. Com o Zé era tudo à grande, no bom sentido da palavra e no mau sentido as vezes que foram necessárias. Não me esqueço do dia em que entrei no maior barco privado, com direito a lagosta, champanhe e até havia arroz de pato. Foi um dia inesquecível e não me esqueço da cara de felicidade que ele tinha por nos proporcionar aquele dia. Foi isso que mais me marcou e são poucos aqueles em que o facto de proporcionarem a felicidade aos outros consubstanciasse na sua própria felicidade. O barco só serviu de pretexto para nos ver sorrir. Dizem que quando as pessoas partem temos a tendência de falar bem delas. Também poderia facilmente falar mal dele, não há quem consiga fugir a essa regra. Não é este o caso porque se o faço só poderia vir por bem, caso contrário a BOA EDUCAÇÃO impunha o silêncio. E no silêncio e numa tristeza imensa deixas-te os teus mais próximos de rastos, a eles só lhes posso aconselhar paciência que o tempo, imagino eu, poderá ajudar a lembrá-lo com menos dor, com menos amargura e salpicando aos poucos um pouco de paz. Até um dia.
Mais uma curta metragem que tem tudo para não ser vista. http://seguesoma.blogspot.com/
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