Eu sou o Pai Natal. É verdade, desvendo aqui este mistério. Todos os anos saio de fininho da sala da casa dos meus Pais e vou para o quarto deles, também de fininho, mascarar-me de Pai Natal. O último ano não correu nada bem, confesso. As crianças são peritas em pormenores e, como sabemos, conseguem ver coisas que pensamos que passarão despercebidas. Estava tudo perfeito – a barba, o gorro, o fato e até pus a almofada mais arredondada para formar a mítica barriga do homem que desce pelas chaminés. Olho-me ao espelho uma dúzia de vezes e chamo os meus irmãos para verificarem se está tudo impecável. Eles, já bêbados, vêem menos que um burro com palas e riem-se ao mesmo tempo que me dão palmadinhas nas costas como quem prevê um momento hilariante para a pequenada. Entro na sala, como em todos os anos, encurvado com a voz rouca e com o saco das prendas numa mão e uma bengala na outra. Ponho uns óculos escuros, grandes, que me ocupam grande parte da cara: Estas pestes são pequenos ratos